Na intenção de melhor formar opinião sobre a atual conjuntura política municipal, hoje à noite estivemos numa audiência pública promovida pela ONG “Fóruns e Redes de Cidadania de Pedreiras” na Rua Frei Serafim, “Morro do Calango”, no bairro do Engenho, sobre uma problemática antiga dos moradores dali: a constante falta de abastecimento d’água, que humilha e massacra aquela sofrida parcela de nossa população. Foram convidados o Prefeito Municipal, o Ministério Público, a Câmara de Vereadores e a direção da CAEMA, por ofícios devidamente protocolados nos gabinetes dessas autoridades/instituições. Somente o gerente da CAEMA, Roberval Lima, deu as caras por lá. Os demais nem satisfação deram das ausências; com exceção do Secretário Municipal de Administração, Patrício Oliveira, que telefonou na última hora prometendo aparecer no dia seguinte (mas abastecimento d’água não é da alçada da Saúde e/ou Infra-estrutura?). Apenas na condição de observadores estivemos lá, nos vigiando para não nos portar como lideranças ou agentes políticos, sem nos pronunciar, emitir opinião ou participar do debate. E pudemos tirar de lá algumas conclusões interessantes e preocupantes; a saber:
1 – Que o problema é deveras grave e que uma coisa é discutir o problema, e outra é realmente haver condições de resolvê-lo;
2 – Que certamente o problema não será resolvido tão breve e/ou facilmente;
3 – Que a comunidade está invadida por um profundo sentimento de orfandade, desproteção e abandono; sem esperanças de assistência das instituições públicas para suas causas; isto é: para eles lá, mais fácil é acreditar em Papai Noel, Saci Pererê e no Cabeça de Cuia, do que no fato de que alguma autoridade constituída esteja empenhada em ajudá-los; especialmente no governo municipal;
4 – Que a ONG que promoveu o evento vem cumprindo um papel importantíssimo na promoção da mobilização e conscientização popular do verdadeiro papel do cidadão como ator principal da condução do seu próprio destino e agente central de transformação da realidade social do país;
5 – Que as autoridades/instituições têm que ter mais respeito ao cidadão, pois a revolta popular no ambiente pelo fato da ausência e, especialmente, pela falta da mínima satisfação para o motivo da ausência dos agentes públicos convidados, causou-nos a percepção de uma espécie de “síndrome de abandono”, “sensação de valor nenhum como cidadão”, “sentimento de total desprestígio” nos populares lá presentes;
6 – Que o gestor local da CAEMA foi corajoso e responsável em abrir-se plenamente para o debate, assumir a total responsabilidade do órgão pelo problema e pela solução, inclusive tentando descomprometer o Prefeito e o Ministério Público com a problemática e a ausência, apesar de ter sido algo inconseqüente em algumas de suas colocações;
7 – Que no nosso entendimento a população tem cumprido o seu papel de lutar, envolver-se e acreditar votando naquilo que representa o “novo” e a possibilidade de transformação e mudança, mas são os agentes políticos e públicos que têm a obrigação de corresponder a esse anseio popular que não têm cumprido seu papel;
8 – Que a ausência da Prefeitura e do Ministério Público impossibilitou a viabilidade de encaminhamento de soluções para o problema, pois as medidas paliativas e emergenciais carecem do comprometimento do governo municipal num Termo de Ajustamento de Conduta-TAC que a Promotoria poderia realizar para o caso;
9 – Que o problema tem origem geográfica e solução técnica difícil, ou melhor, que demanda investimentos financeiros vultosos do governo do Estado e que a CAEMA não tem como resolver isso a contento nem a longo prazo;
10 – Que esse caso vem sem solução já de vários governos anteriores e é de responsabilidade estrita da CAEMA, conforme o próprio gerente assumiu na ocasião; porém todo candidato a prefeito em campanha foi lá e se comprometeu a resolver sem responsabilidade, obrigação e condições para tanto, atraindo para si após eleito a rejeição popular pela inconseqüência de ter assumido aquilo que não era de sua competência.
O problema maior, entendemos nós, está além da mera falta d’água. E se estende para além do “Morro do Calango”. Ele reside no fato da negativa do debate, do medo de aceitar e ouvir o outro, da não constatação da necessidade de ouvir a voz do povo e aceitar a crítica e a presença da divergência e o direito a reivindicação como formas de se construir uma sociedade melhor e um governo eficaz, da falta de humildade e compromisso com o acerto, da não percepção de que o governo deve e tem a obrigação de se comunicar com a sociedade de forma eficiente e contínua, por parte dos agentes políticos investidos de poder e mandato, governos e instituições.
A ONG “Fóruns e Redes de Cidadania de Pedreiras” vem cumprindo brilhantemente seu papel de oposição responsável, propositiva, de compromisso para a construção de uma sociedade melhor. Diferente da outra oposição, esta balizada no ódio, no ressentimento, na inveja, aquela do “quanto pior melhor”, esvaziada de propostas e de autoridade moral para tanto, pois sua passagem pelos governos anteriores a condena pela omissão no acerto e conivência no erro, já que busca apenas se locupletar do poder para a satisfação de seus interesses pessoais, políticos e empresariais escusos.
Como bem disse lá uma popular: “insistir, persistir e jamais desistir”. Está aí o segredo da vitória e do sucesso.
Luis Henrique e Allan Roberto