Depois de muitas palmas e glórias por alguns tantos lugares, uma Flor de Abril desabrochou em nossa terra em pleno setembro... E a praça encheu-se de pretendentes para sentirem seu raro perfume estampado na tela, e prestigiar o trabalho de quem alia o talento ao que tem de fartura em seu terreiro... E essa pretensão em mostrar de onde veio e a que veio é que faz de Cícero filho um santo de casa que obra milagres, fazendo desabrochar não somente uma rara flor de talento em seu elenco, mas em seu povo, que orvalhou-se em lágrimas e risos ao ver suas trilhas, dramas, alegrias e paisagens reais na lúdica tela... E o roteirista soube como ninguém intensificar a filosofia da amarela flor de beleza exótica e passageira que enfeita as nossas paragens até mesmo nos recantos mais inóspitos.
O cineasta Cícero Filho, mais uma vez projeta na tela sua terra e o seu talento, Flor de Abril tem um roteiro mais intenso do que seu último sucesso “Ai que vida”, onde a comédia de costumes e a sátira à sociedade deram lugar a um drama, contudo, a marca registrada em outros trabalhos que são os típicos personagens caricaturados não deixou de se fazer presente.
A trajetória da vida é impulsionada por forças opostas, vida e morte, amor e ódio, felicidade e a tragédia, mas o filme retrata não apenas mais um drama, pois o piegas não faz presença. O drama que divide a carreira de Cícero filho em antes e depois de Flor de Abril, é vivido na vida além da tela por muitas flores travestidas nem só em Terezas, mas em mulheres que vivem entre a intensidade do desejo de amar, e que nem mesmo as grandes tragédias lhes tiram o romantismo, mulheres flores que aparentemente nota ser-lhes negada a primavera tanto esperada e tendo assim que conviverem em solos que impõem situações de áridas frustrações, porém nem por isso os cenários da vida descompensam suas belezas e garra de morrer tentando estar sob o sol da primavera do amor.
Sendo que uma das cenas que se acentua no filme é a presença de um cântico que nitidamente, como à própria flor da cena, traz-nos a paz e a inocência dos tempos de criança, e de um primeiro amor as vezes tão renegado por nós, o Amor de Cristo também é marca registrada no roteiro do cristão Cícero Filho nesta cena nostálgica e branda em meio a um tumultuado enredo de vivências fortes, sentimentos exacerbados, em cenários e situações igualmente.
A fotografia do filme está algo maravilhoso, o verde dos campos, o vermelho da flor que se derrama na paisagem, o espelho rústico de água... A cena em que a atriz principal envolve-se na arte de sua arte foi vivida intensamente, isso mostra que a qualidade do elenco que tem acompanhado e vem sendo escolhido por Cícero, está evoluindo tanto quanto a qualidade de seu trabalho.
A criatividade nos ângulos, a ousada cena do acidente fatídico e o “grand finale”, que poderá não ter agradado a todos, porém, é mister que a arte imite a vida, para que possamos de alguma forma nos fazer íntimos participantes dela, adentrando assim no palco, situação esta que só uma alma sensivelmente humana e criativa pode nos proporcionar.
A Flor de Abril é real, carregada de vitalidade, vemos muitas desabrocharem com suas típicas intensidades e morrerem, com a mesma intensidade, em nossas esquinas de vidas... Esta Flor viveu em cenário construído, numa vida desenhada, mas nos trouxe sentimentos e reflexões tão reais quanto os impostos pela vida, nossa vida...
por Ana Neres Pessoa Lima Gois
por Ana Neres Pessoa Lima Gois