Chegou a hora de caçar


Depois das cinzas do carnaval é a hora exata de procurar o que nunca foi mesmo seu, e não é difícil de saber que tem muita gente com o ouvido doendo, pois durante o trajeto de muitos arrastões, era um bom negocio ficar falando alto ao pé do ouvido de alguém, e não era coisa de paquera, era mesmo caça de voto, e na maioria das vezes nem se sabia qual era a sua tendência, ou de qual lado vai se postar no próximo pleito, mas que é chato é, e bota chato nisso.

Tem um certo parlamentar que andou em todos os lugares, foi nos terreiros das manifestações afrodescendentes, até os rebanhões da vida, onde se juntam gatos e cachorros para melarem as caras de pó e logo mais caírem na folia ou mesmo nos braços de quem oferta carinho em troca de troco, o homem não dava sossego para ninguém, de tanto beijar e abraçar, chegou mesmo a abocanhar um beijo no sujeito, pensando que era uma mulher e o caldo quase fica grosso, já que a mulher do beijado não gostou do que olhou, e a situação só não foi mais ruim porque chegou a turma do “vamos ficar na paz que o homem é autoridade”. 

Não dando muita trela para quem não merece, vou ficando na minha com as butucas ligadas e os ouvidos afinados para não poder desafinar no desfile dos bons de sambas. Minha gente tem gente mesmo que vai para o carnaval somente para pousar de bonzinho e fazer a sua pré-campanha, seja lá para que cargo for, mas fica ali, dando um abraço em um, acenando para outro e vez por outra arrisca um passo de dança, quando na maioria das vezes tem mesmo é que arriscar uma balançada de bunda e se desbunda no meio ridículo, tudo em busca de voto. Hoje é bem fácil estar nos meios de comunicação, vejo e reconheço que com a febre dos orkuts, blogs e facebooks, dentro de pouco tempo qualquer fotografia ou assunto ganha o mundo através da internet e pode mudar a vida de alguém, ou para melhor ou para pior, dependendo do conteúdo que está sendo postado na rede.

Não sou de ficar puxando farinha para o meu saco, afinal saco cheio de farinha pesa e incomoda muito, mas o assunto aqui é bem outro e de grande valia, tanto para minha parte emocional, como também pela minha parte artística que muito me valeu para que eu pudesse arriscar os meus primeiros versos. Falarei da poesia “O Lixo” que faz parte do acervo do meu Pai, o saudoso e imortal João de Sá Barrêto, que no ano de 1974 disparou sua metralhadora de versos cortantes contra o poder da época, indo na defesa do povo. Ali ele sentiu-se a vontade para discorrer vários temas dentro do mesmo tema, e quando chegou a hora de falar na caça do voto, o Poeta citou alguns momentos, uns no circulo das velhas promessas eleitoreiras: “Fazendo qualquer desvio, evitará que o rio tome a nossa Trizidela”- mas o vate não estava satisfeito e deu voz a voz dos humildes: “Mas foi triste o desengano, quem veio cuidar do plano, foi um simples tratorista”- e a pendenga de votos não estava completa, que na hora do sufoco das águas com as enchentes do Mearim, a troca ou suposta troca de favores, corre solta e de cara limpa: “vi vereador brigar/disputando carregar, os troços dos alagados”- deixando o clima ainda deprimente e jocoso, o trovador fuzila: “aquele é meu amigo/aquele votou comigo/ e era aquela folia”- para não ficar sem a fumaça que inspira mudança por trás das cortinas, João Barrêto finaliza a celeuma: “já bateram mil retratos/ uns cumpridos, outros chatos/ fizeram lista também/ em que os protagonistas/ são alagados avista/ do auxílio que nunca vem”- é difícil falar em caça de votos, situação esta que me deixa triste, pois o exercício de cidadania não poderia ser usurpado como é, e o pior é que a corrida por cargos municipais ainda nem começou, tomara que os rumos dos municípios tenham um destino bem mais afável e com compromisso social. Será? 

Samuel Barrêto
Radialista, Poeta e Compositor
Da Academia Pedreirense de Letras

2 comentários:

  1. "tomara que os rumos dos municípios tenham um destino bem mais afável e com compromisso social". Será? Verdade com certeza, pois o seu prefeito CAOSLENON PASSOS LENTOS, deixou muito a desejar para com Pedeiras, Samuel Barreto o seu saco (não de Farinha)está cheio e bem cheio gostaria que você voltasse ao passado e refletisse um pouco com a verdade.

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  2. Explêndido esse ensaio feito pelo poeta, aí vemos a demonstração da falta de excrúpulos e vergonha que alguns candidatos tem quando o assunto é correr atras de votos, de forma imoral e anti-ética. Infelizmente nesse carnaval a cachaça tomou de conta da mente de muita gente fraquinha que se deixou levar por alguns abraços e tapinha nas costas nos arrastões ou mesmo nos bares da vida. Prova que o povo ainda precisa repensar no que realmente quer pra nossa cidade, pro nosso futuro. Uma vergonha deixar se vender por uma folia de carnaval!!!!!

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Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.