De Pedreiras para Pedreiras: projeto acadêmico sonhou solução para famílias afetadas pelas cheias do Mearim




Uma recente publicação no Instagram do Pedras Verdes sobre a obra que está sendo realizada no campo do Bairro Mutirão, em Pedreiras, despertou a atenção de Vanessa, uma jovem pedreirense que atualmente mora fora do Maranhão.

Ao ver as imagens, ela se lembrou de um projeto acadêmico desenvolvido em 2023, durante o início do curso de Arquitetura, que tinha como foco exatamente a mesma área.

Um projeto nascido de um desafio

Na época, Vanessa estava no primeiro ano da graduação e, junto com duas colegas — uma do Paraná e outra do Rio de Janeiro —, participou do 16º Concurso CBCA para Estudantes de Arquitetura.


Elas tinham apenas 15 dias para conceber e apresentar uma proposta completa, incluindo estudos, modelagem, imagens e definição estrutural.

“Foi um grande desafio. Estávamos no início do curso, aprendendo ainda, sem muitos recursos para fazer imagens realistas. Mas queríamos criar algo funcional, bonito e que atendesse de verdade às necessidades da comunidade de Pedreiras”, relembra Vanessa.

O projeto foi pensado como uma solução modular e replicável, que poderia ser instalada em diferentes cidades afetadas por enchentes. O conceito visual foi inspirado em um elemento regional: a copa de um coqueiro, referência simbólica e natural que guiou a organização dos espaços.

Resgate, conforto e dignidade

A proposta surgiu diante da realidade que a cidade enfrenta durante as cheias do Rio Mearim. Historicamente, muitas famílias perdem suas casas e pertences, e o próprio Colégio Olindina Nunes Freire já precisou suspender as aulas para servir de abrigo temporário.

Vanessa e suas colegas queriam ir além de uma solução emergencial. O objetivo era oferecer conforto, dignidade e esperança para famílias em situação de vulnerabilidade.

O projeto incluía:

  • Alojamentos equipados para receber famílias desabrigadas;
  • Refeitórios e banheiros acessíveis para todos os usuários;
  • Playground e pátio desenhável para as crianças;
  • Campo de futebol e quadra de vôlei para atividades esportivas;
  • Praça com fonte interativa para convivência;
  • Mini teatro para apresentações, comemorações e eventos comunitários.

“Queríamos que não fosse só um abrigo. Pensamos também na saúde física e emocional das pessoas, incluindo espaços de lazer e convivência para jovens, crianças e adultos. Até bicicletas colocamos como incentivo à mobilidade e ao exercício físico”, explicou Vanessa.


Uso contínuo durante todo o ano

Um diferencial do projeto é que ele não serviria apenas para períodos de enchente. Nos meses em que não houvesse necessidade de acolher famílias desabrigadas, o espaço se transformaria em centro comunitário e educacional, oferecendo cursos de formação inicial e continuada, além de atividades esportivas e culturais.


“Não queríamos algo que fosse construído só para emergências e depois ficasse abandonado, como muitas obras que vemos por aí. O objetivo era criar um espaço vivo, útil para a população durante todo o ano”, disse Vanessa.


Detalhes arquitetônicos e estruturais

O projeto foi desenvolvido seguindo conceitos minimalistas e orgânicos, com formas suaves e integração visual ao ambiente. Para garantir conforto e funcionalidade, foram realizados estudos de insolação para definir aberturas estratégicas, iluminação natural e ventilação adequada.

Estrutura pensada para durabilidade e segurança

  • Estrutura espacial: composta por tubos de aço circulares formando uma teia triangular, apoiados em pilares metálicos.
  • Dimensões: pilares com diâmetro de 20 cm e espaçamento máximo de 13 metros.
  • Cobertura: telhado com 20 cm de espessura, inclinação de 2% e acabamento com placas Reynobond, garantindo resistência e leveza visual.
  • Steel frame: utilizado na fundação e na estrutura modular para permitir montagem e desmontagem com mais facilidade.

Essa combinação possibilita rapidez na construção, além de resistência para longos períodos de uso, mesmo em situações de emergência.

Pedreiras no coração

Mesmo morando fora do estado, Vanessa mantém um vínculo forte com sua cidade natal. Ela conta que o curso de arquitetura só foi possível graças a uma modalidade semipresencial oferecida pela universidade, que permitiu a estudantes de cidades menores, como Pedreiras, cursarem uma graduação antes inacessível.


“Foi uma grande oportunidade, porque sair para uma capital seria inviável. Essa modalidade abriu portas para mim e para muitos jovens que sonham em estudar”, destacou.

Ao ver que a área onde ela e suas colegas imaginaram um projeto para atender a comunidade agora está recebendo melhorias, Vanessa se emocionou.

“Fiquei feliz de ver que algo está sendo feito para as crianças, jovens e adultos. Mesmo que não seja igual ao nosso projeto, o importante é que a população vai ser beneficiada”, concluiu.



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Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.