INADJETIVÁVEL [por: ALDO GOMES]

Desta vez o esforço foi simplesmente uma viagem, uma levitação pelos ares infindos contagiantes, ainda que em formato de lida laboriosa, árdua e prodigiosa em paralelo, para encontrar adjetivo convincente, que preencha minha ânsia de exprimir muito além do imaginável com uma palavra, um simples adjetivo. Quando me convenci de que jamais acharia tão sonhada expressão, ocorreu-me olhar de novo o título “inadjetivável”, aquilo que não se pode adjetivar, qualificar, e então me senti melhor. Poderia, enfim, ser este o conjunto de letras que preencheria a lacuna inquietante, irritante até segundos atrás. É curioso pensar que teria experimentado breve tempo de alegria por achar-me incapaz de conseguir algo aparentemente fácil. Seria uma dificuldade indicativa de que a prenda caçada representa achado especialmente valoroso. 

Pensei noutros títulos. Lida mental intensa, densa, tensa, que chegou a bom termo. ‘Inda bem, pois até minha respiração já se alterava de forma crescente, gradual. Inadjetivável foi aquele gesto que de vez em quando como surpresa repetida e ao mesmo tempo única a cada vez que ouvia de alguém ao falar ou ligar para alguém em tom de gracejo emotivo dizendo: _ ... incrível ... ! Neste incrível exclamado estava contido fantástico, espetacular, exultante! Antes, porém, de dar acabamento a este relance de conjecturas, admito que pela razão a seguir revelada, poderei ser julgado suspeito para dar vazão a estes sentimentos em caráter de total imparcialidade. 

Apraz, assim, voltar poucas linhas no texto. O gesto. Pelo que tenho ouvido, talvez nem o protagonista nem o alvo daquele gesto faça clara idéia de sua profundidade, seu simbolismo e seu significado. O palco de 

grandes emoções que deu lugar a este magno acontecimento é naturalmente a conhecida e celebrada fonte energizante de gostosas sensações: Governador Archer. 

Antonio Gomes de Melo, quase 83 anos de idade, ex vereador por quatro mandatos, ainda festejado pela sua vitalidade e história política, certo dia bem recente, neste início de janeiro de 2013, passando próximo ao belo prédio do Paço Municipal da cidade cuja emancipação político-administrativa liderou há cinquenta anos, por motivação espontânea dignou-se fazer uma visita de cortesia ao prefeito recém empossado Jackson Valério, que vem se revelando um jovem político de ares inovadores, nutriente natural de apoio popular, hoje ator principal do cenário político local, para quem se voltam as atenções de todos. 

Como filho único (biológico) de Antonio Gomes, como paciencense e archense de nascimento, admirador e acompanhante da política deste município, fanático resgatador e organizador de sua história, meu instante de alegria ímpar, rejuvenescedora e arrebatadora não poderia ser de outro jeito, face à grandeza inominável do gesto do jovem prefeito Valério ao receber a extrovertida visita de meu pai e dizer-lhe com habituais respeito e admiração: _ “seu Antonio Gomes, sente-se aqui nesta cadeira e sinta-se o prefeito de Governador Archer”. Ali se acomodando por alguns minutos Antonio Gomes, segundo soube, falou alguns gracejos a respeito do fato e todos se divertiram. Esta atitude sem precedentes deve ter mexido profundamente com o ego deste homem que se confunde com a própria historia do Centro do Paciência, Vila Governador Archer e Governador Archer, sem contudo lhe subtrair a humildade, fazendo-o sonhar acordado ao reviver em lances relâmpago a sua belíssima história política, desde que ali chegou oriundo de Crateús, Ceará, há sessenta anos, não muito depois de Manoel Paciência ter aberto caminho para a formação do lugar. 

Valério, sem se dar conta, possivelmente, pela sua ascendente espontaneidade e espírito de compartilhamento, proporcionou grandioso momento de resgate dos melhores dias de brava e prazerosa luta de Antonio Gomes, hoje octogenário ex candidato a prefeito nas eleições de finais dos anos 60, que preserva orgulho e alegria de ser archense por adoção e de viver agora o novo contexto econômico-político-social desta plaga abençoada 

Prefeito Valério em cujo palanque tive o prazer de discursar na recente campanha que culminou com a sua vitória e do povo archense, saiba agora, se ainda não imaginou, que você e Vossa Excelência ao mesmo tempo _ assim considero _ proporcionou com um gesto de carinho, consideração e nobreza a Antonio Gomes, meu pai, Luíza, minha mãe, também octagenária, ambos lúcidos e saudáveis, e Aldo Gomes, autor deste texto, a certeza de que ainda existe desprendimento, coerência, externação de estima voluntária por parte de alguém que como os outros, poderia guardar para si próprio, para seu auto consumo e auto afirmação tais benesses e privilégios de grande significado, em vez de dividi-las com alguém. Isso nos deixa aliviados, leves e de alma nova por muito tempo face à esta simbologia rara e inspiradora, que testou os nossos corações, que foram aprovados mediante o impacto surpreendente em forma de afeto causado por atitude de tamanha autenticidade. Podemos afirmar com toda convicção que só você, só Vossa Excelência, Valério, teria voluntariedade e pendor para construir momento ímpar, tão feliz quanto solene na vida destas duas gerações de archenses embevecidos pela singularidade deste gesto... quiçá, ainda, inadjetivável! 

Engº agrº Aldo Pereira Gomes 
Secretário de Agricultura Pecuária e Pesca de Pedreiras

1 comentários:

Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.