COLUNA AR-15: Crônica de um plantão de carnaval

Dr. Allan Roberto
Em 18 anos de médico, já estive de plantão em muitos carnavais, como já curti muitos carnavais fora de hospitais. Por uma contingência da saúde municipal atual tive que permanecer de plantão desde sexta de carnaval até quarta-feira de cinzas no Hospital Geral e Maternidade de Pedreiras. O hospital se preparou especialmente para a demanda extraordinária. Mas fiquei assustado pelo inusitado desse ano nos atendimentos e casos pitorescos que tivemos que atender.

Lógico que carnaval é festa, folia, diversão. Mas impressionou-me muito o grande número de casos de embriaguez que teve que chegar até nossa equipe, majoritariamente de mulheres e jovens adolescentes. Quando perguntávamos o que tinha acontecido, ouvíamos como resposta: “Absolut”, “Old Par” ou “latinhas demais”. E eram umas cachaças escandalosas, outras sonolentas e algumas choronas demais. Casos que desmaiaram e nada fazia acordar, enlameados ao extremo, imundos, como se tivessem rolado na lama propositadamente. Muitas lesões cortantes em pés por cacos de garrafas. Inúmeras brigas, agressões com garrafadas, facadas, pauladas. Gente “pinicado” de faca e caco de garrafa que saiu do hospital mais costurado que “roupa de quadrilha”.

Os casos de embriaguez alcoólica foram os que mais assustaram pela idade baixa dos bêbados, pela maioria de mulheres e por algumas peculiaridades assustadoras; exemplo: a mãe que brigava com o filho embriagado por ter caído de moto e tê-la derrubado, quando, dizia ela, outras tantas vezes, mais embriagado ainda, ele nunca a havia derrubado. Que conivência com o erro do filho! Outro que brigou e o desafeto arrancou-lhe um pedaço da orelha no dente. Aquele com embriaguez patológica que passou a madrugada nos corredores do hospital pregando a Bíblia e delatando as mulheres da cidade que traem os maridos e com quem os traem e dando lição de moral na equipe de plantão. O que levou uma garrafada no tórax, com lesão extensa, grave, que nem percebeu que estava lesado por tamanha embriaguez e no outro dia veio dizer que o médico quase o matou de dor, como se o profissional de plantão fosse o causador da agressão. Aquele que foi encontrado jogado no chão de uma área cheia de usuários de drogas e “bocas de fumo” e chegou aqui com os bolsos cheios de dinheiro alto (verdinhas) e não foi roubado no longo tempo em que ficou jogado no chão entre os delinqüentes, desacordado. O idoso que tomou Viagra e falhou mesmo assim e veio para o hospital em crise nervosa com sua velhinha por se achar imprestável para a vida, agressivo, passando mal de decepção consigo mesmo. A vida e suas mazelas.

Mais duas situações me alarmaram mais do que os dois óbitos que me ocorreram aqui, um por facada e outro por bala. Falo da quantidade de atropelamentos, choques entre motos, acidentes automobilísticos com vítimas que ficarão para sempre sequeladas pela insensatez da embriaguez ao volante. E pior que boa parte das vítimas não estava no veículo, foi atropelada mesmo... Mas o que me chamou a atenção mesmo foi a grande quantidade de pessoas intoxicadas por cocaína que deu entrada em sensação de morte iminente, desesperadas, com palpitações, com a freqüência cardíaca lá em cima e a pressão arterial alta, achando que iria morrer, e em quase overdose. Adolescentes em sua maioria, meninas, induzidas ao uso por garotões que assim imaginavam levá-las para a cama mais facilmente. A escalada da cocaína, pó, em Pedreiras é alarmante e entre os adolescentes impera, especialmente entre as meninas, oferecida pelos meninos com a intenção de sexo.

Preocupante um carnaval assim. Festival de garrafadas, acidentes, pauladas, porradas, facadas e tiros. Muita festa, muita alegria, mas muito excesso e desperdício de saúde e vida. Espero que o balanço geral seja positivo. A cidade bombou com os visitantes em recorde; nossa fama de bom carnaval aumenta e nos traz dividendos econômicos. Isso é muito bom. Mas o que será que faz com que o indivíduo para se sentir alegre e feliz, para participar de uma festa, necessite se embriagar ou usar substâncias psicoativas lícitas ou ilícitas? Que complexidade tal é esse psique humano que o homem para se sentir feliz não basta estar de cara limpa? Sou dependente químico em recuperação. Já vivi maus momentos e agruras terríveis por essa condição. E esse questionamento se faz premente em mim, em minha realidade pessoal, em minha preocupação para com meus filhos, para com minha cidade e nossa realidade.

E após a festança, bem-vindos todos ao mundo real que se reinicia...


Allan Roberto Costa Silva, médico, ex-Vereador-Presidente da Câmara Municipal de Pedreiras, membro da Academia Pedreirense de Letras e da Associação de Poetas e Escritores de Pedreiras-APOESP. E-mails: arcs.rob@hotmail.com e allanrcs@bol.com.br

6 comentários:

  1. O senhor parece gostar muito de assumir coisas que não lhe dizem respeito, como o caso do rapaz que chegou com o bolso cheio de "verdinhas". Totalmente desnecessário, fazendo deste artifício apenas para "encher línguiça" e dar volume a sua crônica. Contudo, concordo plenamente com sua opinião a respeito dos usuários de drogas, sendo muitos destes pessoas jovens. Também me preocupa a atitude omissa da polícia, que há muito tempo sabe disso, mas não faz nada para combater o narcotráfico. E se faz, não surte efeito.

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    1. Deixa de ser dispeitado e invejoso só pq o homem é bom mesmo. Num texto de 60 linhas isso só tomou 02 e tu ainda vem falar em encher linguiça. Se é a visão do autor, vale o que ele quiser botar. Pelo menos assume tua identidade como ele no que escreve.

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    2. A visão é realmente do autor, porém aquela passagem é, e continua sendo, irrelevante para o conteúdo restante do texto. Ademais, concordo com todo o restante do que foi escrito, inclusive a respeito dos usuários de drogas, como eu mesmo citei anteriormente.

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    3. Isso é a tua opinião de babaca. se tu é critico literário se identifica porque só pode ser muita autoridade pra afirmar com tanta categoria do que é ou não "relevante". Te identifica, potencia literaria.

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    4. Não é necessário ser um crítico literário para saber que o tema da crônico nada tem a ver com aquela passagem. Abraços.

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  2. Parabéns Dr.Allan belo texto e pura realidade do q acontece na nossa cidade...nesse carnaval aqui na rua raimundo araujo no hotel do posto os "turistas" cheiravam pó no meio da rua, da porta da minha casa via tudo e ninguem fez nada.

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Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.