ALDO GOMES: Fotos e vídeos



Inúmeras vezes, solitariamente, parei em frente àquela mini galeria de fotos antigas na casa de meus pais Antonio Gomes e Luíza, ali em Governador Archer. Há muitos anos ele pôs em um quadro de feitura rudimentar, caseira, mas bastante duradoura, as fotos de maior impacto, selecionadas com o sentimento de que são as mais marcantes da nossa vida: ele e minha mãe ainda muito jovens, graciosos, irradiando energia e sonhos patentes na soma do clima criado no semblante dos personagens expostos, entre eles este memorialista de momento em diversas fases da vida, contando na sequência cronológica com alguns meses, cinco e dezoito anos de idade. Considero que tenho verdadeira propulsão e grande afeição por coisas que indicam história ou transmitem informações do passado, ainda que de forma longínqua, não tanto sugestiva, o que não era o caso daquele instante, finalmente, quando após muitas vezes de hesitação não mais me abstive de relatar a experiência, de maneira inquietante, usufruindo daquele olhar de puro êxtase, diante de memórias levitantes de tempos vividos. Dei um basta naquela numerosa repetição de flertes rápidos, cuidando para que ninguém percebesse, pois ninguém poderia entender quanta história eu vivo instantaneamente enquanto miro essas incríveis fotos, que podem até dizer algo a alguém, mas a mim elas dizem infinitamente muito. 

A internalização de uma observação dá-se em caráter multiforme e a minha é apenas uma, sem ato contínuo, sem progressão, eventualmente. Pode ser apenas a reação normal, esperada, de estar porventura em frente a ilustrações e lembranças de um passado distante e já quase encoberto pelo tempo. Concordaria, mas apenas acrescentando que memórias, instantes e situações especiais causam impactos emocionais de contornos específicos, de profundidade variável, de cunho pessoal, de natureza única. Revivem-se momentos que esperaríamos reviver, para nos sentirmos transportados a um estado de euforia todo particular, mesmo silenciosa, que nos permite esquecer o prazer de ser o que somos hoje, em troca momentânea de um prazer ainda maior e mais deliciante, com sensação de beirar a plenitude, como se pudéssemos reunir o melhor do que temos desenvolvido com o florescer, a graça e o encanto dos dias que vivíamos nos tempos de outrora, nos tempos idos nas primícias da vida.

Fotos e vídeos da minha vida e dos que me cercam e mantêm comigo laços familiares e de salutar amizade e de grande estima são pontos do meu passado que se fazem presentes e me proporcionam flashes _ que consigo prolongar _ de satisfação ímpar, a cada oportunidade. É um presente de Deus para alguém que não pede tanto! 

E lembrando aqui do ¨modismos de linguagem¨, digo que então...assim..., após dois bons dias de estada dos meus pais em minha casa em Pedreiras neste período carnavalesco de 2014, ao levá-los de volta junto a meu filho Aldo Segundo, fui agraciado com o momento ímpar de estar diante àquele quadro histórico familiar e se nasceu no meu juízo e no meu coração inspiração para discorrer sobre, sinto-me feliz, portanto, visto não ser este um fato comum, tão corriqueiro e frequente. Entretanto ainda fico com a impressão de que não me satisfiz ainda com a descrição, o desabafo, a revelação da internalização do tema, enfim, menos mal, pois esgotar um assunto seria sinal de plenitude e isso não podemos alcançar neste espaço secular. Se tiver dito algo mínimo que preencha um vazio da mente, alma e coração..., ótimo, pelo universo de euforia, prazer e palpitação experimentados, vale a pena. Fotos e vídeos, estas e aqueles me movem, são como oásis descobertos após dura caminhada pelo deserto. Vídeos de 22 anos em que meus olhos brilham, meio incrédulos, vendo minha família, especialmente meus filhos, transbordando energia, beleza e graciosidade, de forma toda peculiar. Prezo, no entanto, estas mesmas vivências de sentimentos e de valores na vida dos meus semelhantes, pois, aqui ou ali, isto representa emoção, alegria, paz e momentos agradáveis na nossa passagem pela terra. 

É tudo muito especial, porquanto corro, levito, voo, vou e volto, aliás estas três palavrinhas dariam uma bela reflexão. Quem sabe, um dia... assim procuro desfrutar de uma passagem aleatória, sem programar, pelo tempo, momentaneamente fugindo da rotina as vezes cansativa de hoje, estabelecida em razão de padrões ou estilos de vida considerados adequados á sociedade e suas necessidades, daí o conforto proporcionado pelo saudosismo, por um cotidiano já desgastado, abandonado e substituído por novos costumes, nem sempre os que nos dão maior satisfação e bem estar, mas aqueles que o nosso artificialismo acredita serem os melhores, os que “bombam”, de fato, como se diz na moda por ai, e permitem perfeita interrelação social.

As nossas imagens passadas, distantes, longínquas, quase apagadas na memória têm significado todo especial e singular no momento em que fugimos um pouco do frenesi e do estresse da lida atual pela “valorização” da vida. Encontrar, no entanto, esse instante mágico, suave, alimentador do espírito é uma raridade, pois os valores mudaram, tornando-se objetivo e eliminando o subjetivo, aquilo que faz parte do nosso mundo interior, verdadeiro, intrínseco, portanto original e cheio de novidades aprazíveis, natas e de cunho sentimental surpreendente e pontuado de felicidade. Os vídeos exercem fascínio maior, pelas imagens de nós mesmos em fases distintas da existência na terra, cada vez mostrando hábitos, tradições e costumes da época e do momento ímpar vivido. São graciosos e nos fazem rir da nossa imagem e fisionomia, que assumem o protagonismo de uma história de unicidade e ao mesmo tempo de compartilhamento com os que na ocasião estão ao redor de nós.

Trazendo à tona outro instante dos meus escritos publicados, sem me referir a ninguém em particular, diria assim como disse no artigo “escrever”, ou “o fascínio de escrever”, se a lembrança está correta, que fotos e vídeos são também utensílios de que podemos dispor na realização de viagens imaginárias ao longo de datas, com acessórios geográficos, filosóficos, temáticos, históricos e culturais e de toda natureza que quisermos considerar, dando chances reais a que deixemos para trás aquilo que não é de bom alvitre, que não satisfaz de verdade, não constrói, pelo contrário destrói. Faz-se mister viajar, embarcar nessas fantasias que um dia foram fatos concretos, ser criança, adolescente outra vez, para sentirmo-nos passíveis dos privilégios dessas prerrogativas, como se pudéssemos construí-las, desfrutá-las, vivê-las para deleite e benefício de nossas almas, sabendo, porém, que esses prazeres irrepreensíveis veem de Deus para nos deliciarmos em segundos prolongáveis indefinidamente pela nossa imaginação.

Sugiro, assim, vermos com outros olhos, outros ânimos e significados, como aqui tentei configurar tais benesses que desperdiçamos ao longo do tempo, esse mesmo tempo que se alia a nós quando o instamos. Basta para isso descermos do pedestal em que porventura estejamos, sejamos humildes, singelos, verdadeiros, abramos mão das aparências que a evolução da sociedade nos impõe. Certamente teremos momentos adicionais felizes. Vamos nessa!

*eng° agr°, secretário de agricultura pecuária e pesca de Pedreiras


1 comentários:

Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.