ALDO GOMES*: MODISMOS DE LINGUAGEM

Os homens, os animais, os chamados irracionais, com suas numerosas espécies, agrupados em classe, ordem, famílias, todos por um legado superior estabelecido portadores de necessidades que se misturam ao conceito de privilégio, graça divina. Eles precisam se alimentar, se exercitar fisicamente de forma natural ou provocada, enfim, coisas do gênero. Eles veem, ouvem, sentem cheiro, gosto, mas entre essas preciosidades há uma de sentido extremamente diverso, rico, a fala, a comunicação fonada, representada pela pronúncia das palavras. Diga-se que há muitas formas de se comunicar, além da fala, como sinais, gestos, olhares, até coisas menos pensadas como tal, a exemplo da sinalização de trânsito. Porém, fechando este preâmbulo, a forma fonada de se entender praticada por nós, humanos, sobrepuja, predomina sobre as demais e neste ângulo lembramos a iniciação da nossa educação convencional. O ABC ficou célebre, famoso, familiar, sinônimo de alfabeto, dito de maneira abreviada e simbólica. 

Ninguém vive sem se comunicar e gramaticalmente há um padrão, regras que permitem salvaguardar uma ordem, digamos, agradável e suave de entendimento entre pessoas.

A linguagem e o linguajar não precisam ser necessariamente estáticos, como se fossem frias regras matemáticas. Podem e devem apresentar novas faces, porém que não descaracterizem o idioma e contenham agradabilidade. No entanto em poucas décadas intensificaram-se notavelmente os modismos de linguagem, os termos paragramaticais fabricados ao sabor da informalidade, da vulgaridade linguística e da pessoalidade da comunicação. E olha que ainda não estamos falando de gírias e vocabulário chulo!

Então... assim... vou tá tentando tá te mostrando algumas coisas interessantes enquanto cidadão, até porque me sinto compelido a entrar nesta seara. Tu não tá entendendo, por isso deixa eu te falar, a gente fica assim que meio hesitante, mesmo porque é bom saber desses modismos para evitá-los. Deixa eu te dizer, não vamos tá ignorando tal fato, pois, tipo assim, de certa forma os modismos aparecem como algo chamativo ainda que bizarro. 

No parágrafo anterior verificamos uma intenção bem prática de representar essa linguagem espontânea, simples, popular, fácil e descomprometida. A natureza humana requer funcionalidade, objetividade, fuga de normas que impliquem obrigatoriedade, o que reduz, de um jeito ou de outro, o prazer da expressão verbal do pensamento, de desejos e emoções que para o emissor só alcança o efeito esperado se apresentado com as devidas leveza e agilidade cronometradas. Acho ser esta aproximadamente a motivação, o senso de quem faz uso, as vezes intensivo, de palavras e termos convencionados extra gramática brasileira. Há que se reconhecer possível intento do usuário de acrescer charme e graça nessas expressões aqui tratadas. Não estamos questionando tais atitudes, apenas registrando-as por vontade própria, toda pessoal e personificada. Ânimo não falta para tratar de questões dessa natureza por achar que a mentalização e a compreensão das pessoas precisam trabalhar áreas talvez ainda inexploradas e que portando, ainda não conferiram a satisfação que poderiam àqueles que embora inicialmente resistam, possam encontrar sentido que valha a pena nessa pretensa divisão de benesses oriundas do pensar comum quanto e quando possível.

Se alguém não concorda comigo fique a vontade, mas creio que cada indivíduo humano tem um pouco de psicólogo, psiquiatra, sociólogo, pesquisador, cientista, filólogo e outros tantos campos de formação inerentes às atividades e compreensão seculares. Ninguém deve se sentir impedido, inapto ou proibido de emitir pareceres informais nos casos em que porventura se sinta desejoso de opinar. Não há porque se reprimir, se subestimar, mas ao se expor faça-o em estado consciente de convicção, resolutividade, responsabilidade.

Aceitemos ou não os modismos de linguagem fazem parte da nossa rotina de comunicação oral, em especial. Eles divertem, irritam, constrangem, agradam, como a linguagem clássica e a popular. Transmitem mensagens, estado de espírito, sentimentos. Níveis de qualidade existem em todas as formas de expressão da vida. Imprescindível é que não haja acepção, manifestações em que uns julguem-se no direito de anular o brio de outros e outros apoderem-se da prerrogativa de julgar e punir o próximo, como se tivesse o poder de avaliar e decidir sobre os dons e as habilidades de um indivíduo gratuitamente eleito como desafeto, tentando passar aos demais a impressão de que decidiu que esse ou aquele é incapaz e deve ficar no seu canto, quieto e calado. Concepções e conceituações nesse teor são repugnantes, porém cônscio de seus defeitos e virtudes o sábio permanece inabalável em suas convicções e em sua visão humilde, contextualizada e realista da vida.

Entretanto poderíamos esboçar estranheza ao considerar tais assertivas ou até especulações como extensão da nomeação do presente texto. Haveria descontinuidade ao longo desta narrativa? Quis este autor dizer que todos se fazem entender ou com linguagem e expressões fluentes, elegantes e de alto nível gramatical ou com linguagem simples, ainda que paralela, como suscitado nestas primeiras linhas. Fica claro que ao final das contas ninguém fica à margem do processo de comunicação, a não ser que se iniba face ao julgamento dos iguais que se acham juízes, não por ascensão legal, de carreira, nem por excelência, mas por autodeterminação, por insolência. 

Falar sobre essa linguagem produz alguma satisfação, embora saibamos da nossa sujeição às diversas plêiades de avaliadores, que têm idem suas sujeições às formas de aprendizagem e experiências, que molduram e peculiarizam modos de ver, sentir, conceituar, dentro de um regime plural de processo educativo a que somos ligados historicamente.

Os seres vivos do reino animal _ não me sinto minimamente apto a incluir, neste sentido, os vegetais _ se comunicam de formas distintas, conforme a espécie, e isto é algo fantástico para a nossa observação, aguça e mexe fundo a nossa curiosidade. Observando as formigas e as abelhas, entre os insetos mais comuns, fica evidente sua técnica ou jeito de se entender e de se informar reciprocamente sobre situações e circunstâncias identificadas em um dado momento. Quanto a essa observação por um lado podemos pensar que é um fato patente, óbvio, mas por outro lado poderíamos questionar que tal coisa é tão clara, mas no mundo de hoje, em que todos correm ávidos rumo a fama, ao poder e a riqueza material, ainda há alguém que dedique horas ou mesmo alguns minutos do seu preciosíssimo tempo para observar coisas vistas como insignificantes, piegas até, como a comunicação entre os animais? 

Este autor não se subestima nem se superestima quanto a capacidade de se comunicar, pois trata-se de um legado e privilégio comum a todos, mesmo os animais. É um dom de Deus para todos. O grau de qualidade da comunicação entre os humanos é fator corrente e notório, assim como em outras áreas como a pintura, as artes plásticas, o teatro, que são, idem, formas e expressões de comunicação, que se propõem a alcançar todos os níveis sociais. Estas, digamos, modalidades de se comunicar, variam do popular, do comum e mesmo do obsceno, como é o caso de muitas músicas, até o popular saudável, o semiclássico, o clássico e o erudito. Tomemos como exemplo, a despeito disso, a música e a literatura. Vemos com certa frequência crianças e adolescentes cantarolando, inocentemente, é claro, de tanto ouvir na mídia e carros de som pelas ruas, pseudo músicas que fazem apologia ao sexo indiscriminado, sem compromisso, banal, apresentando letras maliciosas ao invés de falar sobre situações românticas que estimulem a imaginação, evitando baixar o conceito de sexo como algo bonito e exuberante para uma coisa tão automática, um ritual animal e exclusivamente carnal!

Sem falso moralismo, tais letras e sons obscenos soltos em certas “músicas” apenas contribuem para a tentativa de degeneração e definhamento dos melhores sentidos da instituição família e consequentemente da sociedade dos homens. Falar dessas verdades requer firmeza, confiança e forte personalidade na defesa dos bons princípios apreendidos ao longo de todo um processo de educação familiar e de convivência entre as pessoas em todos os espaços geográficos e sociais.

Os modismos de linguagem são formas válidas de entendimento. Relevantes ou não, eles fazem parte do nosso dia a dia, contribuindo para a integração entre os semelhantes, necessariamente. 

*Secretário de Agricultura Pecuária e Pesca de Pedreiras

1 comentários:

  1. Esse senhor, Aldo, é um grande um grande escritor. Quem gosta de ler deve aproveitar seus escritos que são de uma boa profundidade, de tal forma que não dá para nos afogarmos.

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Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.