A imperfeição poética - Por: Cálida Pessoa


A mão não é capaz de alcançar o sentido do verso escrito. Assim como os olhos não alcançam o brilho dos astros. Entre o imaginado e o transcrito, centelhas de gotas significantes se perdem, e assim nunca ninguém será capaz de versar o poema perfeito.

Os fonemas impronunciáveis da inspiração primeira, mesclam-se a signos de nosso entendimento. As palavras certas se embaralham com ecos de outras outrora já conscientes. E assim segue-se o ritual canonizado das humanas formas forjadas pela arte, podando arestas, sacrificando partes, tolhendo imperfeições. As sentenças, contadas, castas e preciosas às vistas imortais ofuscam a liberdade da imaginação criadora.

Sendo assim, todo poema é metade do que deveria ter sido, à imagem do homem que ama somente metade do que deveria amar. E o poeta é o ser mais absurdamente completo, pois ao somar-se com sua criação, torna-se pelo menos metade de tudo o que prega ou que desejaria ser.
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