Ricardo Costa Gonçalves*
Balaiada é no nome pelo qual ficou conhecido o importante levante popular que se deu no Maranhão do século XIX. É mais um episódio dos conflitos sociais e políticos que aconteceram no Brasil no período que vai da independência do Brasil à proclamação da República. Com início no dia 13 de dezembro de 1838 estende-se até o ano de 1841. O nome da revolta faz referência ao apelido de uma de suas principais lideranças, o artesão Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o “Balaio” (pelo fato de fabricar cestos).
No período do movimento viviam na província aproximadamente 200 mil homens, dos quais 90 mil eram escravos, e outra grande parcela era formada por sertanejos ligados à lavoura ou à pecuária. Outro fato importante era que, devido à falta do mercado externo, a produção de algodão – que era a base econômica da região – enfrentava uma grave crise.
A Balaiada se distingue de outras revoltas do período anterior à Proclamação da República, por ter sido um levante majoritariamente popular e contra os grandes proprietários agrários da região. As causas do levante estavam relacionadas às condições de miséria e opressão da população.
Nesse período, a sociedade maranhense estava dividida, basicamente, entre duas classes: uma baixa, composta por escravos e sertanejos, e uma alta, composta por proprietários rurais e comerciantes.
Para aumentar sua influência junto à política e à sociedade, os conservadores tentam através de uma medida, ampliar os poderes dos prefeitos. Tal medida impopular faz com que a insatisfação social cresça consideravelmente, alimentando a revolta conhecida como Balaiada.
A Balaiada foi uma resposta e uma luta dos maranhenses contra injustiças praticadas por elites políticas e as desigualdades sociais que assolavam o Maranhão do século XIX.
A origem da revolta remete à confrontação entre duas facções, os Cabanos (de linha conservadora) e os chamados “bem-te-vis” (de linha liberal). Eram esses dois partidos que representavam os interesses políticos da elite do Maranhão.
Até 1837, o governo foi comandado pelos liberais, mantendo seu domínio social na região. Mas, diante da ascensão de Araújo de Lima ao governo da província e dos conservadores ao governo central, no Rio de Janeiro, os cabanos do Maranhão afastaram os bem-te-vis e ocuparam o poder.
Essa modificação dá início à revolta em 13 de dezembro de 1838, quando um grupo de vaqueiros liderados por Raimundo Gomes invade a cadeia local para libertar amigos presos. O sucesso da invasão dá a chance de ocupar o vilarejo como um todo. Nesse mesmo ano, o negro Cosme Bento de Chagas, com o apoio de três mil escravos fugidos, une-se à rebelião. A grande quantidade de negros envolvidos na revolta deu traços raciais à questão da desigualdade.
A agitação social causada pela revolta beneficia os bem-te-vis e coloca o povo em desagrado contra o governo cabano. Em 1839 os balaios tomam a Vila de Caxias, a segunda cidade mais importante do Maranhão. A natureza popular do movimento ameaçou a estabilidade dos privilégios econômicos dos que detinham o poder local na Região. Uma das táticas para enfraquecer os revoltosos foram as tentativas de suborno e desmoralização que visavam desarticular o movimento.
Em 1839 o governo chama Luis Alves de Lima e Silva (hoje conhecido como Duque de Caxias) para ser presidente da província e, ao mesmo tempo, organizar a repressão aos movimentos revoltosos e pacificar o Maranhão.
O Comandante resolveu os problemas que atravancavam o funcionamento adequado das forças militares. Pagou os atrasados dos militares, organizou as tropas, cercou e atacou redutos balaios já enfraquecidos por deserções e pela perda do apoio dos bem-te-vis. Organizou toda a estratégia e a execução do plano que visava acabar de vez por todas com a revolta.
Em 1841 a chance de anistia, dada pelo governo, estimula a rendição de 2500 balaios, inviabilizando o já combalido exército. Os que resistiram, foram derrotados por Luis Alves de Lima e Silva. Todos os negros fugidos acusados de se envolverem na revolta foram reescravizados. Manoel Francisco dos Anjos Ferreira é morto durante a repressão. O líder dos escravos, Cosme Bento, é preso e enforcado.
A Balaiada chega ao fim, entrando pra história do Brasil como mais um momento conflituoso da ainda frágil monarquia e da história do Brasil.
Bibliografia:
JANOTTI, Maria e Lourdes Mônaco. A Balaiada. São Paulo: Brasiliense, 1987. 74p.
SANTOS, Maria Villela. A Balaiada e a insurreição de escravos no Maranhão. São Paulo: Ática, 1983. 145p.
* Professor, graduando em Matemática, mestrando em Estado e Políticas Públicas FPA/FLACSO, ex-diretor do C.E. M Olindina Nunes Freire, ex-secretário de Educação do município de Pedreiras, ex-assessor especial da prefeitura de Pedreiras, ex-superintendente adjunto do INCRA, Técnico do Núcleo de Extensão e Desenvolvimento da Uema/LABEX/UEMA.