por Paul Getty
“Bem, temos aqui uma vida, agora, que tal você ouvir o seu coração? Estou ouvindo o meu enquanto escrevo esse artigo, espero que você possa ouvir o seu também.”
Na maioria das rádios, cujo alcance é imediato, geralmente os programas locais costumam tocar músicas de cantores de vários cantos do Brasil, exceto local; sem se levar em conta de que temos músicas de qualidade produzida em abundância em nosso estado; o MARANHÃO.
Temos a mania de valorizar o que vem “de fora”, sobretudo o mercado fonográfico de outros estados e países. A própria imprensa local costuma divulgar lançamentos de CD’s e DVD’s de artistas nacionais, dando um espaço muito grande a obras de outros rincões, enquanto autores locais ralam muito para receber uma simples e humilde notinha. Quando em São Luís cheguei no início da década de 90, demasiadamente as nossas músicas eram executadas nas rádios e televisões, e os nossos artistas eram reverenciados e reconhecidos como verdadeiros Pop’s Star. Infelizmente hoje a situação é outra.
Se atentarmos para o noticiário local, principalmente no campo das artes, esbarramos num samba de uma nota só: falta patrocínio, falta patrocínio... O caminho do reconhecimento é árduo e moroso. Por vezes exige uma persistência que somente os que sobrevivem de música com muito amor alcançam. Outros acabam desistindo pelo caminho, movidos especialmente pela necessidade de exercer uma atividade que lhes dê o sustento.
O governo municipal e estadual para comemorar o aniversário da cidade e o réveillon contrata artistas a custos altíssimos, cujo talento nas apresentações às vezes não consegue atingir as camadas populares, uma vez que aqui temos artistas tão bons, ou melhores, porém não é dado o valor que lhes é devido.
Contudo, não estamos cobrando dos outros uma atitude que nós mesmos não temos? Nós próprios somos ou não somos herdeiros e continuadores de uma mania que vem desde os tempos áureos do rádio brasileiro? A verdade é que a realidade hoje é bem diferente de antigamente, e o que impera nas rádios é o famoso “JABÁ” recheado de tantos ingredientes que até Deus duvida. Para quem não sabe, JABÁ, dentre outras coisas é quando uma pessoa paga para uma rádio tocar a sua música, ou a música de seu cliente, quando esta pessoa é o empresário de um artista. O resultado disso é o que se vê na maioria das rádios. Músicas (ruins) que tocam 10 a 20 vezes por dia. Aí o melhor desligar o rádio e ouvir um CD.
Em São Luís temos anualmente o Congresso de Música do Maranhão realizado pela Associação de Apoio à Música e à Arte - AMARTE, onde tem como objetivo mobilizar a classe artística maranhense para discutir assuntos diversos como: profissionalização do artista, ritmos maranhenses e suas fusões, direitos autorais etc. Os próprios artistas são uníssonos em dizer, que após o término do congresso, tudo o que foi dito e acordado nas palestras morre ali mesmo de forma prematura. “Feliz a região ou a cidade que TEM ARTISTA que a traduza com tal profundidade”.
O artista se eterniza todos os dias, em sua obra. Temos artistas de valores inestimáveis, e que representam a nossa cara, a nossa cultura, onde cantam e encantam as nossas belezas e riquezas naturais.
Temos urgentemente de fazer justiça e abrir uma exceção – valorizar a nossa terra e sua gente através de poesias e canções. Estas são um alento para quem nasceu e para os que vivem em determinado lugar, e de quebra ainda fornecem combustível para divulgação para aqueles que por um motivo ou outro se afastaram de suas raízes.
A frase, atribuída a Jesus: “Ninguém é profeta em sua própria terra”, depois abrasileirada por “Santo de Casa Não Faz Milagres” não deve ser barreira para o incentivo cultural. O desafio é grande, mas devemos persistir sempre. Que tal começar a comparecer em nossos clubes, bares, restaurantes e casas de shows e aplaudir o artista local? SANTO DE CASA - ESSE FAZ MILAGRE, SIM!
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Paul Getty S Nascimento
Poeta, Compositor e membro da Academia Pedreirense de Letras