COLUNA ASSAIANTE | Papa Francisco e o aborto – Indulgência ou iniquidade?


O que antes era restrito aos Bispos da Igreja, passou, a partir do último dia 21, a pertencer a todo o quadro dos sacerdotes católicos. O Pontífice da Igreja autorizou, agora de forma permanente, que padres absolvam fiéis envolvidos com a prática do aborto, ou seja, tanto a mulher que sofreu a intervenção como o médico que a praticou poderão ser perdoados.

A comunidade cristã se divide e opiniões das mais diversas surgem condenando ou apoiando o simpático Pai da Igreja. A ala integralista diz que com essa decisão o Sumo Pontífice está estimulando a prática do aborto, contrariando, assim, as leis de Deus. Os mais liberais, em contrapartida, afirmam ser essa concessão de perdão uma forma pura do exercício do amor ao próximo, a indulgência. 

Longe dessa discussão, essa medida me parece, sim, acertada, senão vejamos: Papa Francisco, como disse muito bem Reinaldo Azevedo, vai dando concretude ao que há de mais virtuoso na tolerância cristã: abraçar o pecador, mas não o pecado. Dessa forma, o aborto continua sendo uma violação direta às Leis de Deus, no entanto, quem o comete não pode ser condenado por humanos, tão pecadores quanto, a padecer eternamente no fogo do inferno. 

Não é missão de ninguém, muito menos da Igreja, julgar seus semelhantes, ainda que essa seja uma técnica comum da fé cristã. Orientar, estimular a reforma íntima, o melhoramento individual e arrependimento pelos desvios de condutas é o grande desafio da Igreja atual. Religião é lugar de pecador (que busca a santidade), não lugar de puritanos (que na sua grande maioria já estão no “céu”). 

Sendo o perdão um dos pilares da fé cristã praticá-lo é um dever de todos. Assim, acredito que em nenhum momento a Igreja Católica (e aí eu meu incluo) vá condescender com a legalização do aborto ou com a sua aceitação, mas tão somente abraçar as almas aflitas e orienta-las a seguir o caminho reto. 

Daí eu pergunto, o que é melhor? Uma Igreja que abrigue, sem abrir mão de seus princípios, ou uma Instituição hipócrita que continue excluindo as pessoas que não se adequam às suas conservadoras regras? REFLITA!

Discussão semelhante aconteceu quando o Papa Francisco disse: "Se uma pessoa é gay, procura Jesus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?". Errou o Santo Padre ao dizer isso? Acredito que não, pois o amor ensinado pelo Cristo, Modelo da Igreja, é incondicional e, ao invés de nos julgarmos, Ele pediu que nos amássemos. 

A Igreja não precisa abrir mão de seus princípios para abrigar a diversidade humana, e isso nada a tem a ver com os efeitos retóricos da Teologia da Libertação, que infelizmente abandonou a dimensão transcendente para abrigar uma pauta de militância político-partidária. 

Portanto, meus irmãos, ao invés de trabalharmos pela excomunhão da mulher, do homem e do médico eventualmente envolvidos com a prática do aborto, lutemos para que essas pessoas encontrem, na Casa de Deus, um lugar da confissão, do arrependimento, do perdão e de uma nova vida.

Texto: Alexandre Assaiante
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