JOÃO MUNIZ RECEBEU VISITA DO BLOG PEDRAS VERDES




Por: Joaquim Filho

A tarde desse último sábado (20) foi abençoada e muito proveitosa para fazermos um registro importante para a história da nossa cultura local; pois, finalmente, o blog Pedras Verdes encontrou um precioso tempo para colocar um projeto antigo em ação: visitar João Muniz, um senhor que reside na Rua São Joaquim, na baixada, na cidade de Trizidela do Vale e, ter com ele, um momento de uma visita informal, e claro, ouvir do “seu” João as belas histórias de saudosismo, sabedoria, memórias de pessoas ilustres e sobre a cidade de Pedreiras e Trizidela do Vale.

Logo que chegamos (eu e meu amigo Henrique), fomos recebidos por um dos filhos de João Muniz, que para a nossa alegria, o ilustre visitado estava em casa, deitado, descansando. O jovem, bem educado, foi chama-lo e, em seguida, João apareceu já trazendo na ponta da língua aquela voz de locutor de rádio FM: impostada, límpida e com um português de dá inveja a qualquer um professor de língua portuguesa, e já foi dizendo que muitos dos seus amigos que o visitavam, não apareceram mais. Citou os nomes deles, mas por questão de ética e respeito a essas pessoas, não vamos entrar em detalhes. Demonstrou muita alegria e satisfação com a nossa presença. Não temos dúvidas, que você que não sabe de quem estamos falando, deve estar se perguntando: 'mas quem é João Muniz mesmo, e de quem esse blog está falando?'

Então, caríssimo (a) amigo (a) leitor (a)-internauta, vamos saber quem é João Muniz. Mas antes saiba que não é em um simples texto, ou numa rápida visita que fazemos a uma personalidade, que vamos traduzir tudo sobre essa pessoa.

João Muniz é um cidadão Pedreirense que nasceu na Rua Pinto Saldanha, no Cantinho de Cima, no dia 27 de dezembro do corrente ano, irá completar 85 anos de idade, ou seja, nasceu no ano de 1929, quando Pedreiras tinha somente 9 anos de emancipação político-administrativa. Como vemos através dos números, datas, João tem história. João fez a história e sabe contá-la na ponta da língua para quem quiser ouvir. Há 15 anos perdeu totalmente a visão, mesmo buscando recursos em São Paulo para ficar bom, mas não teve jeito. Teve problema de glaucoma, segundo os médicos que o atenderam. Mora com a esposa (adoentada) e os filhos de um segundo casamento, que por sinal, têm-lhe o maior respeito e carinho nessa hora mais importante da sua vida: a velhice e a doença.

Tirando o problema da falta de visão, o que nos chamou à atenção foi ver João Muniz com saúde, forte e ainda trabalhando, pois segundo ele, todos os dias ele faz a mesma coisa que vem fazendo esses anos todos: fazendo o seu programa, colocando no ar a sua voz, das 6 às 7 da manhã e transmite para a comunidade as notícias do dia, fazendo propagandas das empresas que lhe apoiam, dando informes de utilidade pública, avisos, recados, tocando músicas e muitos serviços de utilidade pública que uma empresa de publicidade faz. Perguntamos como ele faz para transmitir os avisos já que perdeu a visão. Disse que o filho lê, ele grava na memória e retransmite. Como você vê, João Muniz é um cidadão que ajudou a construir a cidade e a sua história com os diversos trabalhos que ele fez em prol da comunidade. Toda a sua vida foi mais como doação, altruísmo, do que alguém que se preocupou em acumular riqueza. A prova do que estamos falando, é a sua humilde casa, a forma humilde que mais um João vive.


HÁ MAIS DE 15 ANOS QUE O BOI MIMOSO NÃO DANÇA

Quando perguntamos sobre a brincadeira do Bum Boi que ele tinha há quase 30 anos, ele respondeu que há mais de 15 anos não brincou mais, tudo agora é passado e ficou apenas em suas reminiscências os belos momentos que o seu Boi realizou em todo Estado do Maranhão, várias festas, terreiros, festejos e datas festivas populares como São João, São Pedro e outras. Foi bastante taxativo quando afirmou que um dos fatores do fracasso do boi mimoso, foi a falta de apoio e incentivo da última administração que segundo ele, não via a brincadeira do Boi como uma coisa interessante para a cultura local. Disse nunca ter recebido um centavo do poder público municipal, na gestão passada.


PROFISSÕES QUE JOÃO MUNIZ EXERCERA

O Subtenente Granges, ex-Chefe de Instrução do TG-08-008 (2010/2011) disse certa vez, que em Pedreiras as pessoas não são somente uma coisa. Verdade. João Muniz é a prova dessa leitura sociológica e inteligente desse grande homem. Quando eu era menino, trabalhava na oficina do meu saudoso tio Juarez Costa Ferreira e, eu lembro que João Muniz era lanterneiro, ou funileiro, como chamam em outros lugares. A oficina dele era na rua que eu nasci e morei até os meus 15 anos, a Rua Primeiro de Novembro, na entrada do Cuscuz, onde hoje é a oficina do Pepe, filho de Davi. Lembro-me de que o seu trabalho como lanterneiro era bastante elogiado até mesmo pelos colegas de profissão. Além disso, João Muniz exerceu outras atividades, como: locutor na Voz do Comércio; locutor de carro de som; foi motorista da Casa do Povo, antiga loja que tinha na Avenida Rio Branco, cujo proprietário era Zeca Araújo, dirigia um Jeep que ele tinha. Em 1952 torou sua carteira de motorista e foi trabalhar no Departamento de Estradas e Rodagem.


JOÃO MUNIZ E A POLÍTICA

Houve uma época que em Pedreiras a política local só se restringia a dois grupos de famílias: ‘Brancos e Melos.’ Segundo João Muniz, ele apoiou os dois grupos em momentos diferentes. Começou apoiando Dr. Josélio Carvalho Branco e Dr. Kleber Branco, devido a amizade que tiveram na infância, pois quando meninos fizeram muita estripulias juntos. “Minha mãe Maria foi criada junto com a mãe de Josélio e Kleber, a Dona Meloca, esposa de Zeca Branco. Joguei muita bola ali enfrente a casa do Josélio, lá tinha um alpendre e um campinho. Meus colegas de bola era Josélio, Barzinho, Zé Gomes, Meraldo e outros. Só o Dr. Kleber que não jogava porquê ele era muito mufino. O Edilson Branco, irmão de Josélio,era padrinho de um irmão meu, o Zé Buchim.” Engraçado foi ouvir de João Muniz dizer que Dr. Josélio era muito esperto e durão quando menino, mas o Dr. Kleber Branco era muito “mufino”. Disse que depois passou a apoiar o Deputado Carlos Melo em várias eleições. Foi vereador por 7 vezes, mas em todas elas, não teve êxito, não conseguiu se eleger. Sobre política, João Muniz nos fez uma revelação muito surpreendente, que hoje nós sabemos o porquê de muitas pessoas sérias, honestas, que se candidataram e não foram eleitas. Segundo Muniz, naquela época do QUERO, POSSO E FAÇO, os coronéis ou mandatários do poder na cidade só permitiam ser eleitos que eles bem queriam. Soube depois por uma fonte segura que por duas vezes ele tivera votos suficientes para se eleger, mas devido a um político poderoso da época, ele ficou de fora, dando a vaga a outro, disse João Muniz. Sobre a política atual, eleições, e esses nomes que estão aí, ele não quer nem saber, E, dá graças a Deus porque a sua família também não se mete e não tem ilusão com essas pessoas.


JOÃO MUNIZ E MONSENHOR GERSON: PENSE NUM ‘CABRA’ BRUTO!

Perguntado sobre as pessoas ilustres do passado, que já não estão mais no meio de nós, dentre elas, perguntamos a João Muniz se ele teve amizade ou havia convivido com o saudoso Monsenhor Gerson, vigário da Paróquia de São Benedito. “Eu tive a honra de ser amigo de Monsenhor Gerson, convivi com por muito tempo e sei de muita história dele”. Pense em um ‘cabra’ bruto! O bicho era bruto! (risos) Certa vez eu fui com ele para Marianópolis, ele tinha umas terras lá, aí, eu brincando ele, eu falei em sonho, que tinha tido um sonho. Ele me respondeu: “Que negócio de sonho, preto, eu lá acredito em sonho.” Aí, eu falei como era que um Padre não acreditava em sonho, pois está escrito lá na Bíblia que era através de sonhos que os mensageiros traziam as mensagens de Deus para os homens aqui na terra! Depois que eu falei isso, Monsenhor Gerson olhou para mim, sorriu e me disse: “Preto, preto, onde é que tu estás aprendendo isso”?


JOÃO MUNIZ E AS HISTÓRIAS DAS GRANDES ENCHENTES DO RIO MEARIM

João Muniz disse que as maiores enchentes do rio Mearim, ele viu todas elas. Falou que nas grandes enchentes, já viu a Praça Cinquentenário, conhecida como Praça da Sucam, totalmente alagada, as pessoas pegando canoas para passarem para o outro lado do bairro Tresidela. Para João Muniz, as maiores enchentes aconteceram nos anos de terminação 4: 1954, 1964, 1974 e 1984; que depois disso, as outras maiores foram a de 1985 e 2009. Viu muito o sofrimento do povo que contraiu doenças, perdiam seus pertences, fome e muita miséria. João Muniz nunca foi à guerra, mas já viu coisas nesses 85 anos de vida, que muita gente não acredita. Segundo João, quase todas as pessoas daquela época que tinham a sua idade, todos já morreram.


JOÃO MUNIZ E JOÃO DO VALE: QUEM É PATACA DOS DOIS?

“João do Vale foi moleque aqui em Pedreiras e nós brincamos muito jogando bola, correndo na rua e fazendo arruaça ali na Rua da Ponte. A minha vocação por Bum Boi começou desde pequeno brincando com João do Vale que improvisava um côfo de palha na cabeça coberto com saco de estopa e dizia que era o boi. Fora nós, a única pessoa que tinha boi era o finado Raimundo Cheque, na Rua do Correio, onde ele morava. Os nossos instrumentos eram feitos com o couro de camaleão que nós matávamos. Perguntamos se naquela época João do Vale já fazia música de boi, elerespondeu o seguinte: “Que eu saiba, não. No meu entendimento, João do Vale só se tornou compositor depois que foi para o Rio de Janeiro. Qualquer pessoa da nossa época sabe disso. A primeira música dele foi ‘Estrela Miúda’, que quem gravou primeiro foi Dalva de Oliveira.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estar com um homem que guarda tanta história, uma lenda viva, que ultrapassou décadas e décadas e ainda está no meio de nós, é uma dádiva de Deus, é uma oportunidade ímpar para nós escrevermos a nossa história e darmos mais valor a quem um dia fez tudo para que a cidade hoje, embora não seja a terra dos sonhos, mas com certeza, bem melhor que antes. E, João Muniz é responsável por essa história viva.

Viva João Muniz! Viva o Boi Mimoso que parou de dançar! Viva o povo da nossa terra!

4 comentários:

  1. A verdadeira voz da experiência, bonito de se ver.

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  2. até que infim alguem lembrou de um homem que representa a verdadeira cultura da nossa cidade

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  3. Conheci João Muniz com sua primeira família,em 1969 alguns filhos a mulher era uma briguenta e ele muito paciente, dono de oficina mecânica,morando na Rua do tamarindo, conheci seu primeiro sogro era um estivador brando que atendia pelo apelido Manbo. Fiquei muito feliz em sabre que o amigo ainda existe.Wilson Ferreira Leite São Luis Gonzaga Ma.

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  4. bonita história Joaquim Filho, vi nesse senhor o voz da experiência coisa que não se dar mais muito valor nos tempos atuais, nossos filhos já não querem ouvir os mais velhos que tem uma sabedoria inigualável adiquirida no decorrer dos anos e tá ai o resultado todo mundo louco entrando numa roleta russa.

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Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.