COLUNA AR - 15: Por que devemos mudar o Maranhão?

Até 1965 o Maranhão era dominado por um regime político comandado por um capo pernambucano de nome Vitorino Freire. Foi governador, deputado e por último senador da república. Durante seus quase 30 anos de mandonismo, época historicamente conhecida como “vitorinismo”, as cadeias públicas eram troncos nos quais se acorrentavam os presos, os prefeitos eram “coronéis” de seu grupo político, os governadores todos era ele quem elegia ou indicava e a máquina pública funcionava apenas em torno de seu projeto político, enquanto o povo maranhense e o desenvolvimento passavam à baila disso tudo. Quem não lia em sua cartilha política, apanhava, ia preso ou morria. 

Em 1964, um jovem deputado federal resolveu se rebelar contra esse regime e prometeu mudar o Maranhão e saiu vitorioso em sua campanha de governador, derrotando o “vitorinismo” – chamava-se José Sarney. Vitorino Freire se auto-exilou no Rio de Janeiro e nunca mais voltou ao Maranhão. O episódio da vitória do jovem e valente deputado federal vencer o temido e forte coronel da política maranhense foi tão inusitado que chamou a atenção de todo o Brasil. O grande cineasta Gláuber Rocha registrou como documentário a posse de José Sarney e suas propostas de desenvolvimento e grandeza para seu estado e seu povo. 

Não demorou muito e descobriu-se que o povo maranhense apenas havia trocado seis por meia dúzia. Sarney há exatos 47 anos manda no Maranhão no mesmo estilo de seu antecessor político no domínio estadual. Com uma grande diferença: é mais hábil politicamente e mexe as pedras no jogo de xadrez da política com tanta maestria que torna refém todo o staff dos três poderes nas três esferas de poder – municípios, estados e nação. 

De lá para cá ele elegeu ou indicou todos os governadores do estado, com a exceção do hiato dos dois anos de Jackson Lago, em que Sarney manipulou o Judiciário na esfera federal e roubou os últimos 02 anos do mandato popular de Jackson, frustrando a vontade soberana do povo maranhense. A grande maioria dos prefeitos, deputados estaduais e federais e demais lideranças políticas são apenas instrumentos dos interesses políticos de sua família, as prefeituras são linhas de transmissão de seus planos politiqueiros sórdidos e os vereadores são seus cabos eleitorais de luxo. Assim funciona a política impetrada por Sarney no Maranhão há quase 50 anos. 

E o nosso estado e nosso povo? Somos um dos povos mais miseráveis do país. Somos campeões em índices de subdesenvolvimento em todas as áreas: educação, saúde, mortalidade infantil e materna, saneamento básico, meio ambiente, geração de emprego, renda per capita etc. Isso é uma vergonha e inexplicável para um estado que teve seu chefe político dos últimos 47 anos como presidente da república por 05 anos e figura exponencial do poder em todos os governos de 1965 até hoje; causa perplexidade por sermos um estado de clima bom, com as duas estações climáticas principais bem definidas, terras férteis, povo trabalhador, enormes e caudalosos rios perenes e o maior litoral do nordeste. Paradoxalmente, produzimos pouco na agricultura perante o nosso potencial e boa parcela de nosso povo passa fome; somos o maior exportador do país de mão de obra barata e para sub-emprego em outros estados e de humanos para trabalho escravo, pela falta de condições de sobrevivência e mercado de trabalho aqui; e com todo esse litoral a nossa indústria de pesca é insignificante economicamente. 

Apesar de tudo isso, escandalosamente, o poder do velho oligarca sempre evitou que essa realidade aparecesse por completo para o restante do país. Mas algo agora escancarou a realidade social miserável do nosso Maranhão. Foi a descoberta de enormes mananciais de petróleo e gás em nosso subsolo e a necessidade de instalação de várias indústrias para a exploração desse potencial e as dos demais serviços indiretos, que fará surgir mais de 30.000 vagas de empregos na área técnica em todo o estado. E pasmemos! Nós não temos mão de obra qualificada nem para preencher 5000 vagas desse total que surgirá nos próximos 10 anos. Com toda essa riqueza mineral os olhos do resto do Brasil e do mundo se voltaram para cá, e não deu para a oligarquia esconder tamanha vergonha. Provado está que o estado é miserável e que foi deixado assim propositadamente para que eles se perpetuassem no poder se beneficiando da miséria do nosso povo. 

E para concluir nossa coleção de troféus de índices sociais negativos, vejamos mais essa notícia: na semana passada o IBGE divulgou que o Maranhão ocupa o último lugar em relação à participação dos estados na economia nacional. E é o último também em relação à renda per capita anual, apenas R$ 7.000,00 por ano por habitante maranhense. E ainda mais: das cidades mais miseráveis do país, três são maranhenses: Marajá do Sena, Centro do Guilherme e São Raimundo do Doca Bezerra. E mais: das piores escolas de ensino médio do país, 03 estão no Maranhão e a pior do Brasil é nossa. 

É muita tristeza para um estado premiado com riquezas naturais. E é imperativo lembrarmos que se está assim foi por decisão política e só se muda essa realidade também por decisão política. E é necessário que mudemos a realidade de nossas vidas, de nossos irmãos maranhenses e de nosso estado. E a oportunidade se avizinha – daqui a dois anos haverá eleições para governador do estado, deputados estaduais e federais e senadores. A hora se aproxima e só depende de nós, artífices e vítimas desse processo cruel. 

Allan Roberto Costa Silva, médico, ex-Presidente da Câmara Municipal de Pedreiras, membro da Academia Pedreirense de Letras e da Associação dos Poetas e Escritores de Pedreiras – APOESP. (arcs.rob@hotmail.com ou allanrcs@bol.com.br)

6 comentários:

  1. É fato: Sempre que destitui-se um corrupto, coloca-se outro no lugar! Não tenho mais ilusões com os políticos.

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  2. Brilhante artigo!
    Mais uma vez o AR dá um show de maestria literária e política.
    Flávio Dino vem aí e representa essa oportunidade que o AR deixa nas entrelinhas.

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    1. O discurso é perfeitamente correto; espero que o autor, faça dele, a partir de agora sua bandeira politica.

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  3. É assim que se escreve samuel barreto, aprendi com o allan.

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  4. Vergonhosamente o nosso estado nessa calamidade e a nossa classe política majoritariamente demente e fascinada por esses Sarneys. Mas o culpado da sobrevivência dessa sarna é o traidor do Lula, que de combatente passou a sustentáculo dessa oligarquia.
    Nosso povo precisa abrir os olhos e libertar-se de uma vez --- e o nome da libertação é Flávio Dino.

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  5. Muito boa a matéria sobre os índices sociais e a oligarquia maranhense. Meu sonho é que os maranhenses fiquem cada vez mais conscientes desses problemas que temos e, a oportunidade de mudarmos essa situacão é através do voto popular. É claro que 47 anos, "UMA SÓ FAMÍLIA MANDANDO NO MARANHÃO, SÓ PODE DAR NISSO, E A TENDÊNCIA, INFELIZMENTE, É PIORAR". Parabéns Allan, gostei muito, e fica aqui uma frase para nossa reflexão. "COMO PODEMOS DIZER QUE TODO POLÍTICO É IGUAL, SE NÃO DERMOS OPORTUNIDADE A OUTROS?

    Nathanael Gomes - SLZ - E-mail: missionath@bol.com.br

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Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.