Dr. Allan Roberto |
Esse
papel legiferante normalmente é limitado pelo próprio desconhecimento do
vereador da função que tem; e como ex-vereador que sou, reconheço também que
pela escassez de recursos, falta assessoria técnica nas Câmara Municipais para
prover o vereador dos conhecimentos necessários para legislar. Mas, a falta de
vontade e compromisso com as obrigações da função fala mais alto, pois há como
driblar essas limitações; por experiência própria posso afirmar isso. Já o papel
fiscalizador, esse sim é que é o problema, pois na atual realidade tudo
conspira e se une para que essa função exponencial seja omitida e assim se
configura o pior dos crimes de responsabilidade da edilidade.
O
vereador é o pára-choque da classe política. Os prefeitos, os deputados, os
senadores e os governadores são quase inacessíveis à abordagem popular por
razões inerentes às funções que exercem, mas o vereador não pode nem tem como
se esconder do povo e é abordado e cobrado a todo o momento para fazer de tudo,
desde pagar a dose de cachaça no boteco da esquina até construir a ponte que
falta no bairro ou povoado. E muito do que se cobra dele não é de sua
obrigação, mas do prefeito. E o vereador consome o seu mandato em realizar favores
e mais favores que exigem muito dinheiro e, condicionando esses favores ao voto,
imagina assim se viabilizar para a reeleição. E como o executivo tem mais
recursos, precisa da ajuda do prefeito para custear esses favores, empregar
seus apanigüados e receber e oferecer outras benesses mais. Portanto, precisa
ser aliado do prefeito e termina se cegando ao que deveria ver e apontar
como erro e se omite completamente de seu papel fiscalizador. Juntando tudo
isso com a má fé de alguns chefes de executivo, está formada a circunstância
perfeita de conivência e omissão para acontecer toda espécie possível de crime
na gestão pública, com a população saindo sempre como a maior prejudicada.
Assim, a
harmonia entre os poderes recomendada pela Constituição Federal transforma-se
em submissão. Legislativos de cócoras perante os executivos, câmaras de joelhos
perante as prefeituras e vereadores curvados diante dos prefeitos a mendigar
migalhas. De grande e principal espaço para o debate, discussão e solução dos
problemas da sociedade, as Câmaras Municipais hoje não passam, em sua maioria,
de meros órgãos cartoriais homologadores da vontade dos chefes dos executivos
municipais. Lamentável.
Mesmo
sendo o pára-choque da classe política, o vereador é dessa classe a categoria
mais desvalorizada. Só tem mesmo valor e é lembrado pelos detentores de cargos eletivos
mais elevados quando é para eleger os deputados. Aí, sim, o vereador vale ouro,
pois se transforma em verdadeiro cabo eleitoral de luxo. De tanto precisar do
prefeito, torna-se enfadonho e chato ao alcaide e aos seus auxiliares diretos e
com isso perde valor e respeito, pois a dependência vai se avolumando e ele
fica refém das migalhas do executivo. Soma-se a isso uma dificuldade enorme de
união e organização da categoria para a defesa de seus interesses políticos de
elevada estatura e valorização de seu papel. E tudo isso resulta e justifica a
atual situação de desmoralização da função e da figura do vereador, que é um
elemento importantíssimo e exponencial da classe política.
A
situação é tão grave que uma pesquisa realizada pela União de Vereadores do
Brasil - UVB em várias cidades brasileiras de pequeno e médio porte, perguntou
à população que repartição preferia que fosse fechada, se a Câmara Municipal ou
a quitanda da esquina. E mais de setenta por cento da população pesquisada
preferiu que fosse fechada a Câmara de Vereadores.
Mas
de quem é a culpa? Será que só o vereador é culpado dessa situação? Imagino que
não somente ele. A população é a principal responsável, pois a composição de
cada Câmara Municipal é a expressão exata da população que representa, e
analisando desta forma se conclui que se existem maus vereadores é porque
existem maus eleitores. O povo é que tem que escolher com mais cuidado os seus
representantes, já que nas Assembléias Legislativas e no Congresso Nacional não
é tão diferente. Tem que acabar com essa história do povo eleger candidato que
quer somente ter um bom salário sem dar expediente e garantir um status que lhe possibilite barganhar
vantagens pessoais em troca da omissão de sua função principal.
Portanto,
nossa gente tem que escolher melhor entre os três tipos de vereadores
existentes, que são o vereador, o variador e o viriador.
O primeiro é aquele que legisla e fiscaliza com responsabilidade e
independência; o segundo é aquele que varia politicamente de um lado para o
outro conforme sua conveniência pessoal e política do momento e o terceiro tipo
é aquele que não desgruda da virilha do prefeito.
Allan Roberto Costa Silva,
médico, ex-presidente da Câmara Municipal de Pedreiras, membro da Academia Pedreirense
de Letras e da Associação de Poetas e Escritores de Pedreiras. E-mails: arcs.rob@hotmail.com e/ou allanrcs@bol.com.br
VEREADOR NA VIDA REAL: Um empregado do povo que recebe para aprovar leis que nunca serão cumpridas.
ResponderExcluirÉ desse jeito mesmo. Visão perfeita da realidade. E o que me admira é que o autor é político e não tem medo de dizer o que pensa.
ResponderExcluirTEMOS EXEMPLOS CLAROS EM PEDREIRAS TEM VEREADORES QUE VIVEM SÓ DE FAZER FAVORES (DAR CAIXÃO DE DEFUNTOS E LEVAR PARA O CEMITÉRIO) ESSES TEM REELEIÇÃO GARANTIDA E OUTRO FAZER ESTALÇAO ELETRICA, OUTROS BABAM O PREFEITO, NA VERDADE ESQUECENDO O VERDADEIRO PAPEL QUE É LEGISLAR. OUTROS INTELECTUAIS QUE PASSARAM NA PRESIDENCIA DA CAMARA DE PEDREIRAS PROMETANDO FAZER REFORMAS, ACABAR COM O EMPREGUISMO, MUDOU SÓ DE FORMAS TIROU EMPREGO DOS POBRES E DEU DE VOLTA PARA OS PARENTES DE VEREADORES, E O A RESTA FINANCEIRA DIVIDIU ENTRE OS PARES. É DE FAZER VERGONHA ESSE NOSSO LEGISLATIVO PEDREIRENSE, PARECE ATÉ COM UMA VERDADEIRA PORCILGA.
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