(Imagem Google - samambaiahostel.blogspot.com)
Todos estes poemas foram
compostos em minha adolescência e mais tarde organizados sob o título genérico
de Canções
Infantis, integrando o livro Um pouco de Cada Momento. Para eles,
abro um espaço neste blog, como forma de prestar, no Dia da Criança, uma
homenagem não somente aos que estão vivendo sua infância, mas também às
crianças que continuam existindo dentro de nós.
A LUA
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Certa noite, a passear
Pelas calçadas da rua,
Tive a ventura de olhar
O surgimento da lua.
O céu, claro como um dia,
Estava todo estrelado
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E
aos meus olhos parecia
Um
grande véu prateado.
A
lua surgiu tão bela!
Foi
para mim um regalo
Ver
São Jorge dentro dela
Montado
no seu cavalo!
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RABICÓ
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Eu me lembro muito bem
Do porquinho da vovó.
Como o do Sítio, também
Se chamava Rabicó.
Era um esperto porquinho,
Daquele tipo infernal
Que metia seu focinho
No que via no quintal.
Quando voltava ao terreiro
Depois de andar pelo mato,
Transformava num lameiro
O tanque d’água do pato.
Corria atrás da galinha,
Mordia o rabo do galo.
Sua diabrura não tinha
Um minuto de intervalo.
Vovó desejou um dia
Almoçar leitão assado
E encarregou a Maria
De ir pegar o danado.
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Quando
a pobre da empregada
Segurou
o Rabicó,
Ele
empurrou a coitada
E
fê-la beijar o pó.
Na
disparada em que vinha,
Arrebentou
a cancela
E
foi parar na cozinha,
Virando
prato e panela.
Maria,
recuperada,
Tentou
cercar Rabicó.
Tombou
no meio da escada
E
quase leva a vovó.
Rabicó,
bastante esperto,
Foi
em frente e, quando viu
O
portão da casa aberto,
Ganhou
a rua e sumiu.
Vovó,
num tom engraçado,
Disse:
– Deixa, não faz mal!
Não
comi leitão assado,
Mas
vou ter paz no quintal.
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VOVÔ
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Toda tarde eu
visitava
O vovô que,
satisfeito,
Me acomodava com
jeito
Na perna e me
balançava,
Cantarolando
baixinho:
– Upa, upa,
cavalinho!
Depois ficava
contando
Estórias de reis e
fadas
E florestas
encantadas.
Cochilava, vez em
quando,
Mas voltava de
repente
Numa estória
diferente.
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Vovô partiu certo dia
Para o plano da saudade.
Mamãe contou-me a verdade
Que, no fundo, eu já sabia:
Nunca mais iria tê-lo
Com seu carinho e desvelo...
Hoje, no reino das glórias,
Sob o olhar protetor
E divino do Senhor,
Vive a rechear estórias
De alguns celestes arranjos
Para contá-las aos anjos.
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CABEÇA
DE BOLA
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Juvenal era um menino
Muito pequeno, franzino,
De nariz chato e beiçola.
A cabeça, agigantada
E de forma arredondada,
Mais parecia uma bola.
Nunca ficava zangado
Ao se sentir maltratado
Pelos colegas de escola
Que, quando o viam chegar,
Passavam logo a gritar:
– Lá vem Cabeça de Bola!
Na escola, como no lar,
Juvenal era exemplar.
Indiferente às chacotas,
Dedicava-se ao estudo
E, aprendendo sempre tudo,
Tirava as melhores notas.
Um dia um curto-circuito
Causou um incêndio fortuito
Na sala do Juvenal..
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Em
disparada carreira,
Foi
saindo a turma inteira
Sob
pânico geral.
Juvenal
não viu lá fora
A
professora Isadora
E
correu para buscá-la.
Naquele
mesmo momento
Uma
rajada de vento
Fechou
a porta da sala.
Por
incrível que pareça,
Ele
meteu a cabeça
Na
porta e o trinco partiu.
Não
demorou quase nada,
A
mestra, um pouco queimada,
Nele
amparada surgiu.
Desde
então foi esquecido
Aquele
feio apelido:
Morreu
Cabeça de Bola.
Juvenal
foi respeitado
E
passou a ser tratado
Como
herói por toda a escola.
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O GURIATÃ
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Repousando à sombra fria
De uma mangueira que havia
No fundo de meu quintal,
Escutei certa manhã
O canto fenomenal
Daquele guriatã.
Eu tinha perto de mim
Uma gaiola; e, assim,
Cometi a grande asneira
De tomá-la em minha mão,
Pendurá-la na mangueira
E ativar seu alçapão.
Só demorou um pouquinho
Para o pobre passarinho
Tornar-se prisioneiro,
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A
debater-se o coitado
No
espaço do cativeiro,
Tão
estranho e limitado.
Ao
longo de uma semana,
Na
gaiola pus banana,
Manga,
água fresca e alpiste.
Ele
só bebericava...
Sem
comer, calado e triste,
Mal
se firmava na trava.
Aquilo
me comoveu
E,
ferido no meu eu
Por
sentir-me um carcereiro,
Num
átimo arrebentei
Os
talos de um lado inteiro
Da
gaiola e o libertei.
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BATE-BATE
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No circo é tarde de estréia.
Uma turma atenciosa
Acompanha passo a passo
As atrações, da platéia;
Porém se mostra ansiosa
Pela entrada do palhaço.
De repente, a garotada
Explode e aplaude feliz.
Chega a vez do Bate-Bate,
Com sua cara pintada
E uma bola no nariz
Que mais parece um tomate.
– Boa tarde,
meninada! –
Grita o palhaço bem alto
E, ajeitando o camisão
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Dentro
da calça folgada,
Corre
para dar um salto
E
cai de bumbum no chão.
Outro
palhaço entra em cena,
Alto,
em traje feminino,
Tendo
no colo um anão.
Diz:
– Beija tua morena
E
acarinha o teu menino,
Meu
fofo, minha paixão!
Bate-Bate se rebola,
Perguntando:
– Desde quando?
E
foge do picadeiro,
Batendo
as botas de sola
Uma
na outra e soltando
Pó
de arroz pelo traseiro.
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(Lago, Kleber. Canções Infantis,
in Um Pouco de Cada Momento. São Luís: EDUFMA, 2006)
Eu e Vinícius, meu filho
de 7 anos, estamos mandando um abraço e votos de muita alegria e felicidade a
todas as crianças, seres humanos que estagiam num momento de vida em que a
espontaneidade da inocência é a grande inspiração de um universo especial, onde
não encontra abrigo qualquer tipo de preconceito.
Kleber Lago