COLUNA AR - 15: Feliz Natal !!!

Dizem que o dinheiro é a mola-mestra do mundo. E é impressionante o peso do capital sobre todas as formas de relações humanas e sociais. Tudo gira tanto em torno do dinheiro e do consumo, que a influência disso em nossa forma de viver e refletir, de tão gigantesca, chega a ser imperceptível até para os que refletem as relações humanas e sociais com entonação mais crítica. Também para aqueles que são mais vigilantes para não se deixarem impregnar pelas regras da sociedade de mercado e consumo, que supervalorizam o supérfluo em detrimento do essencial e absoluto, é impossível não se deixar envolver pela imensa presença dessa marca da sociedade mundial pontuada exponencialmente pelos interesses econômicos. 

Na semana passada, intencionado eu em introduzir mais espiritualidade na educação dos meus filhos e preocupado em mostrar-lhes o verdadeiro sentido das comemorações natalinas, saí com eles em São Luís para comprarmos um presépio, a representação singela do nascimento de Cristo, primeiramente realizada em Assis-Itália pelo jovem frade Francesco Bernardone, posteriormente conhecido como São Francisco de Assis. Fomos ao maior shopping da capital e andamos em muitas lojas, das menores às maiores, e qual não foi nossa dificuldade em encontrar para comprar aquela cena singela de José, Maria, o menino Jesus na manjedoura, os reis magos e pastores. Encontrei em apenas uma loja um conjunto desses, simples e muito barato, e havia poucos exemplares expostos à venda, de um único modelo, tudo dando para perceber que não era porque a venda desse produto era grande, mas com certeza porque a procura era pequena. Mas encontrei variados tipos outros de enfeites natalinos em forma de árvores, luminárias, estrelas, fitas, gorros, bolas brilhantes e coloridas, presentes etc, todos de variados modelos, tamanhos, formas e preços, e disputadíssimos para aquisição, enquanto os poucos presepinhos estavam lá num cantinho da prateleira sem chamar a atenção dos inúmeros consumidores que por ali passavam. A figura do Papai Noel era onipresente na decoração e para venda. 

Natal significa nascimento e o Natal que comemoramos agora significa o nascimento de Cristo. Mas como a figura de Jesus Cristo parece que não dá muito dinheiro (exceto para algumas igrejas, mas isso já é um outro assunto...), sua figura foi quase que completamente substituída nessa época pela do Papai Noel, pois esse remete obrigatoriamente a presente e presente é compra, consumo, capital, dinheiro, comércio... E o Natal se transformou quase que completamente numa festa do capital, em que se estimula primordialmente o consumo pela troca de presentes sofisticados, decorações caríssimas e ceias nababescas, relegando para um plano muito inferior sua essência principal, que é a chegada do salvador dos homens, daquele que veio resgatar-nos das garras do mal e do pecado, pobre e simples, nascido no mato numa casa reservada aos animais e que teve como berço um cocho, entre cavalos, bois e ovelhas. O Rei dos reis veio ao mundo em tamanha simplicidade e sem nenhum luxo para mostrar-nos a grandeza de Deus e sinalizar que o essencial ao Homem não é a opulência e a riqueza. Mas atualmente essa mensagem subliminar está encoberta pela força do dinheiro e transformaram a festa do nascimento do filho de Deus em um mercado, o que analisado teologicamente é o contrário do que de fato deveria representar. 

E observando as decorações oficiais que as prefeituras fazem do Natal, vemos que o poder público também joga a figura do menino Jesus para segundo ou terceiro plano. Vejamos: a prefeitura de São Luís anunciou a despesa de mais de quatrocentos mil reais com a decoração natalina da cidade; são dezenas de árvores de natal gigantes, centenas de grandes laços e estrelas, milhares de luminárias piscantes, mas somente dois presépios. Em uma prefeitura do interior do estado, a foto no jornal que anuncia a decoração de Natal da cidade traz a imagem de uma casinha com um enorme Papai Noel, vários embrulhos coloridos de presentes e até o absurdo de uma figura gigante que representa um boneco de neve (neve no interior do Maranhão?!! no nosso calor escaldante – que contra-senso!!), mas não aparece a cena da manjedoura. Nos anúncios de TV e demais propagandas vemos o mesmo. Portanto, quem quiser ver a figura de Jesus no Natal, só se for à igreja. 

Analisando os quatro evangelhos, Mateus apenas cita o nascimento de Jesus em Belém, Marcos já começa do batismo de Cristo, João inicia falando do ministério de João Batista e Lucas é o único que se esmera nos detalhes do nascimento da forma que conhecemos. A representação do presépio primeiramente foi montada por São Francisco de Assis em meados do ano de 1200 num esforço para que não esquecêssemos o verdadeiro sentido da festa. A data que comemoramos não é a de fato do nascimento, pois na Judéia nessa época do ano é muito frio, neva muito e não daria para Cristo nascer no campo, pois não resistiria ao frio. Além disso, o céu não estaria tão estrelado e límpido, ovelhas não estariam pastando e a estrela que anunciou o nascimento não seria vista pelos reis magos e não os guiaria de tão longe até Belém. Os estudiosos do assunto imaginam que Jesus deve ter nascido em abril ou maio, mas o 25 de dezembro foi escolhido pela Igreja Católica porque uma festa pagã dos povos antigos celebrava nessa data a festa da luz, em referência ao solstício de dezembro, e como Cristo é a “luz do mundo”, foi eleita a antiga data da festa da luz para comemorar o nascimento Dele. 

Mesmo que esqueçam a estampa do presépio nas decorações, precisamos nos vigiar para não esquecermos em nossos corações o principal do Natal, que é a chegada do rei menino que veio para ser sacrificado e nos salvar. E mais, lembremos de tudo que essa festa santa representa, que é o verdadeiro espírito natalino, isto é, o momento de refletirmos o amor, o congraçamento, o perdão, a união, a confraternização e a justiça que estão explícitos na mensagem cristã, pois não podemos ostentar ceias para quem não tem o que comer e nem falar de presentes para quem não tem dinheiro para comprar o remédio para o filho doente ou até mesmo o que vestir. 

Feliz Natal a todos e que o ano novo seja próspero a todos nós.

Allan Roberto Costa Silva, médico, ex-presidente da Câmara Municipal de Pedreiras, membro da Academia Pedreirense de Letras e da Associação Pedreirense de Poetas e Escritores-APOESP -  E-mail: arcs.rob@hotmail.com ou allanrcs@bol.com.br

5 comentários:

  1. Para mim Natal sem Missa, principalmente a Missa do Galo, nao 'e Natal.

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  2. Impressionante a inteligencia dessa pessoa,cada dia que passa o meu apreço,carinho,admiracao por esse Dr.só aumenta! Um grande beijo Xuxu (:

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  3. Ontem, segunda-feira (17), depois que cheguei da festa de aniversário do meu amigo Zeca da Sucam, resolvi ver um pouco a TV. E, por mera coincidência, eu cheguei justamente no momento em que estava sendo exibido pela BAND, o programa CQC (eu gosto), e, nesse programa tem um quadro chamado NENfu, o qual o humorista toda semana desafia uma personalidade do "mundo" esportivo para jogarem de uma certa altura, umas bolinhas dentro de um balde com água.

    A desafiante dessa segunda-feira fora a "Rainha" Hortência, do vôlei.
    Ao ser entrevistada pelo humorista que faz o quadro, ela, em determinado momento da entrevista, se referiu ao ex-jogador Ronaldo, o fenômeno, dizendo que o mesmo demonstra ter habilidades para praticar qualquer modalidade esportiva, depois de ter jogado vôlei com ele. E disse ainda: "O Ronaldo é um fenômeno, qualquer esporte que ele tivesse escolhido, seria o melhor do mundo."

    Toda vez que eu leio um texto do meu amigo Dr. Allan Roberto, eu me envergonho de arriscar escrever algo, aqui nesse blog. E, parafraseando as palvras da Hortência, eu cheguei à conclusão que Dr. Allan Roberto, além de ser um excelente médico, um grande articulador político, também é um "mosnstro" das letras.

    Portanto, se ele não fosse um excelente médico e um grande escritor, seria de qualquer forma muito bom em qualquer profissão que tivesse escolhido.

    Parabéns, Allan, pelo seu belíssimo texto.
    Mais um que só vem encher de grandeza e credibilidade o blog Pedras Verdes.

    JOAQUIM FERREIRA FILHO
    RUA CORINTO NASCIMENTO, 39 - GOIABAL - PEDREIRAS/MA
    (99) 8110.3668

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  4. Parabéns Dr. Allan pelo coluna. Como já citei em comentários em outras colunas sempre leio todas, algumas eu concordo outras não. Parabéns mais uma vez Dr. Allan Roberto.

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Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.