BOA LEITURA: O Escuro Como Lição, por Samuel Barrêto


Quem não gosta de um escuro? Bem, o escuro não quer dizer que algo é obscuro e nem mesmo afirmar que a truvidade possa trazer o pânico para quem esteja vivendo uma boa sombra, afinal todo mundo quer um lugar ao sol, mas ninguém dispensa uma leve sombra para não sobrar na vida, já que na morte todo mundo caminha para escuridão, pelo menos dos sentidos. 

Lembro agora de um fato acontecido ainda no verdor minha infância, o Seu Claro, que era um negro que tinha orgulhoso da sua raça, atitude que deve ser tomada por muitos, já que algumas vezes ficam um negando as ancestralidades, ou mesmo a condição da sua raça, que muito contribuiu para a evolução deste País e de muitos outros. Bem, certa vez ao voltar para casa passou na frente da morada de uma senhora que banhava o seu filho na porta da rua, e como a noite já estava se escanchando naquele final de tarde, a claridade não era tão boa, e no exato momento da passagem do Seu Claro, aquela mãe diz para o filho: “menino vira a bunda para o claro” e Seu Claro: “para mim não , vire para o fute”- por falar no tal, as pessoas teimam em dizer que o coisa ruim mora na escuridão, com isso as vezes fico me questionando se por lá existe mesmo o escuro, já que num lugar que tem tanto fogo, vai com certeza sobrar claridade, e não é para menos, foi não foi fica alguém dizendo para outro: “tu ainda vai queimar no fogo do inferno”- quanto a mim, prefiro as chuvas do inverno, que por sinal, este ano foram poucas, o que está deixando muita gente com uma pulga atrás da orelha, já que a escassez de chuvas deixa a plantação minguada e os alimentos vindos da roça, não terão a mesma escala de produção e venda.

Voltando a memória para a minha infância, quando ainda morava na Nova Rua, no antigo bairro de Pedreiras, a poética (pelo menos aos meus olhos juvenis) Tresidela (hoje Cidade emancipada de Trizidela do Vale), recordo do casal, Zé Branco e Dona Preta, que sempre deram muita sombra para tantos que se abrigavam naquele lar, ou mesmo por ventura vinha para uma estada passageira, ali na Nova Rua local que também tem fragmentos importantes da minha história.

No dicionário Aurélio, vamos encontrar tantas definições para o escuro, que algumas chegam mesmo a contribuir com o racismo e de maneira pejorativa, dando vazão para um continuísmo que fora posto por nossos colonizadores, lá, por exemplo, vai afirmar que é “tenebroso, sombrio, pouca luz, cor preta, cinza, misterioso, escuso, suspeito, pessoa de cor escura, mulata” e assim vai com tudo que nos restou dos nossos dominadores e de maneira inconsciente a gente acaba passando de geração em geração.
Vindo mais uma vez para o escuro procurando uma luz que possa iluminar o agora, chego a minha pouca conclusão que o melhor tempo é o presente, mas não estou querendo de maneira alguma desqualificar o passado, e muito menos julgar um futuro que pode muito bem ser mais planejado, sem correr o risco de ficar na escuridão, sem um facho de luz que possa jogar os seus fragmentos, servindo como base para uma construção de uma nova história, que sempre vai sofrer mutação.

A poesia usa muito o recurso do escuro aliado à sombra para depois colocar o seu clarão, Fagner com Fausto Nilo, declaram em umas das suas muitas canções: “quem sonha contigo molha a cama, quem te ama dorme a sombra de um vulcão”- o Poeta César Teixeira diz no belo samba “Raiban”: “pra me enxergar você tem mesmo que apagar as luzes da sociedade”- algo tão profundo para se analisar o contexto de uma falsa relação com as minorias.

Mas certa vez em um dos meus poucos versos, acabei por usar as duas expressões: “pousando para dá luz para a sombra do abismo”- no significado apaixonado da expressão, estaria iluminando uma umbra, para que a continuação da espécie humana estivesse garantida, na infinda capacidade que temos nos envolvimentos e na construção coletiva de uma comunidade. Não duvido que somos vozes do passado, tão somente jogando luzes no presente para que a escuridão não seja um assombro, mas um aprendizado capaz de transformar, sem usurpar a nossa identidade.

Samuel Barrêto
É autor do livro “A Rua da Golada e sua Identidade”
Vencedor do Prêmio Gonçalves Dias,
Na Categoria: Crônicas, no ano de 2008. 
samuelbarreto13@hotmail.com

2 comentários:

  1. Samuel ninguém tem tempo pra essas baboseira que tu escreve não.

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  2. esse abestado só escreve besteira e se acha artista. mas nunca trabalhou na vida, só agora nesse governo de merda que deram um cargo que ele não faz nada, só ajuda a roubar. e ainda é doido, por ultimo andou dizendo que o dr. allan queria matar o barreto no hospital, misturando politica com medicina e tudo já comeram na mão do dr. allan.

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Pedras Verdes, Pedreiras, MA, Brasil.